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Mariana Aydar - Cavaleiro Selvagem Aqui te Sigo

procurar respostas. Dá vontade de perguntar: o que você quer Mariana?

“Solitude” (Kavita, Luísa Maita e Jwala) já chega com um questionamento: “Na minha solidão, quem sou eu?”. Esse mesmo alguém que interroga, afirma que na própria solidão quem manda é ele mesmo.  A faixa continua provocando e afirmando vários pensamentos. É como se o ouvinte fosse forçado a se questionar. A procurar respostas. Dá vontade de perguntar: o que você quer Mariana?

“Não foi em vão”, composição de Thalma de Freitas, descreve um locutor que parece finalmente ter encontrado um estado transitório de paz interior. Depois de um relacionamento conturbado, a pessoa descrita sente que pode seguir em frente, que pode prosseguir de acordo com o fluxo da vida. Como Mariana canta no refrão, as coisas estão finalmente claras: “quem feriu meu coração, fui eu, mais ninguém. Quem feriu meu coração foi você também”. Contas acertadas, a cantora nos libera para o resto do disco.

“Os passionais” traz uma reflexão interessante a cerca do estado precário em que as pessoas se reduzem no envolvimento amoroso. Como sabemos,  todo casal tem seus erros e acertos, mas nem sempre a balança demonstra um resultado favorável. Às vezes o peso fica maior do que uma pessoa pode suportar. Dante Ozzetti e Luiz Tatit, compositores dessa faixa, descrevem um casal que tem plena consciência dos prós e contras de um relacionamento, mas que mesmo assim, voltam um pro outro quase todo mês. Só que no final um deles vem apenas para dar parabéns. Parabéns aos passionais, que se vão e voltam atrás. Mariana reforça muito bem essa dubiedade de ações na última parte da música, como se a voz dela funcionasse para convencer quem a ouve que as pessoas podem fazer uma coisa, se arrepender e voltar atrás.

“Vai vadiar” (Alcino Corrêa e Monarco) ficou conhecida na voz do Zeca Pagodinho. Aqui, Mariana Aydar muda o arranjo, fazendo um samba virar uma espécie de tango. O que poderia ser um desastre (tirar essa faixa do seu suposto "locus amoenus") funciona. Uma prova de que velhas fórmulas nem sempre funcionam. E também de que uma cantora com personalidade ajudar a vitalizar uma música (já) consagrada há tempos.

“Nine out of ten” é uma canção composta por Caetano Veloso durante seu exílio forçado em Londres. Com sorte, Mariana não precisou ser exilada para garimpar uma música de repertório alheio, dando uma nova cara, um frescor. Também mostra que um grande clássico não precisa ficar eternamente preso a uma época. E que esse mesmo clássico, quando encontra uma cantora de personalidade, afiada, inteligente na escolha do seu repertório, pode acrescentar algo ao que já nasceu belo.

“Floresta” (Guilherme Held, Kavita e Tiganá Santana) é climática e densa. Lembra muito certa fase tropicalista da MPB. Prolixa, verdadeira, estranha. A letra carrega nas costas uma espécie de lamúria. É direta, dolorosa: “quem nessa floresta de aflição, não traz, seu próprio fim, sem ser a flor jamais”.

Quando uma mulher adentra o cavernoso, lúdico, confuso e inteligente repertório do Zé Ramalho, os resultados costumam surpreender. Mariana faz isso com “Galope rasante”, uma releitura extremamente pessoal, tocante e com a assinatura em letras garrafais registrada no cartório das grandes vozes brasileiras. É para escutar lembrando de preferência, de momentos bons. Do tipo que só pertencem a nós mesmos.

“Porto” é uma faixa que destoa um pouco de todo o disco. Composição de Romulo Fróes e Nuno Ramos que lembra muito o fado que os portugueses adoram. Nesse porto, Mariana fica mais leve, como se cantasse numa marcha mais lenta. E não menos deliciosa.

“Preciso do teu sorriso” (João Silva e Enok Virgulino) é uma das melhores faixas desse disco. É singela, simples e sutil. E não é tarefa das mais fáceis tornar (mais)  visível a beleza que brota justamente dessa sutileza. É o tipo de música que toca profundamente. Dá vontade de correr para os braços da pessoa amada quando Mariana canta sobre alguém que precisa desse amor, que não pode mais ficar sem teus beijos, afinal, viver sem você é viver pra chorar. Um último detalhe: essa canção ainda conta com a participação mais do que especial na sanfona do Dominguinhos!!

Mariana é apaixonada por forró e inclusive já cantou em banda desse estilo. “O homem da perna de pau” (Chico Xavier e Edson Duarte) é o momento do disco onde no show com certeza todo mundo vai puxar seu par e dançar. Tem elementos de carimbó, guitarrada e brega. E ainda conta a história de um homem com perna de pau que, mesmo tendo perdido uma perna, voltou para o forró e pra surpresa geral, dançava bem melhor.

“Cavaleiro selvagem” é composição de Mariana (que quando compõe assina como Kavita) e Emicida. Os preconceituosos logo devem achar que a junção desses dois numa música é como se fosse Roberto Carlos cantando funk, algo impensável. Mas a mistura dá certo. Tão certo que essa música traz uma frase que parecer ter saído da fossa quase eterna da cantora Maysa: “Me faz ver na tristeza, sabedoria”.  A letra dessa penúltima música transporta quem a ouve para um lugar distante, sereno...

Encerrando com maestria, Mariana Aydar apresenta sua “Vinheta da alegria” (Kavita). Admito que nem se eu pescasse palavras bonitas agora no dicionário, conseguiria explicar a beleza de uma composição desse porte. Ela diz assim: “Onde a tristeza levanta, eu espanto. E o pó vai sem dó. E insisto na beleza do que já é. E a cabeça não vê. E a cabeça não vê. A cabeça não vê. Mas o coração sim. Ele derrama a vida toda em mim. E fim”. E a dedica para Satya.

A evolução artística deveria servir como seta na vida de todas que se aventuram nos mares do canto. A questão não é lançar um álbum melhor que o outro, e sim um disco após o outro que venha sempre cheio de significados, verdade. Que agregue arte para o artista e para o público. As escolhas do artista respingam no ouvinte. Mariana Aydar chega ao seu terceiro disco de maneira coesa, seguindo uma linha bonita de se ver, acompanhar, escutar e se orgulhar. É certeira na escolha do repertório. Sabe que para sobreviver no tal país das cantoras, é preciso ter personalidade, paciência e dedicação.  Lançar um sucesso nas paradas é uma coisa, fazer arte é outra. Viva Mariana Aydar.

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Mariana Aydar chegou de mansinho, conquistando seu espaço aos poucos: primeiro com “Kavita 1”, prosseguindo com “Peixes Pássaros Pessoas” até nos presentear com esse “Cavaleiro selvagem aqui te sigo”. E esse cavaleiro, melhor dizendo, a amazona Mariana, canta, compõe e emociona na medida certa. Como toda cantora que se preze deveria fazer.

A aventura começa com a vinheta “A saga do cavaleiro”. Ambiente apresentado, tá na hora de começar os trabalhos.

“Solitude” (Kavita, Luísa Maita e Jwala) já chega com um questionamento: “Na minha solidão, quem sou eu?”. Esse mesmo alguém que interroga, afirma que na própria solidão quem manda é ele mesmo.  A faixa continua provocando e afirmando vários pensamentos. É como se o ouvinte fosse forçado a se questionar. 

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