Sandra Duailibe
Sandra Duailibe nasceu na única cidade brasileira fundada por franceses: São Luís, capital do Estado do Maranhão. Viveu boa parte de sua vida em Belém (Pará). Hoje, está radicada em Brasília. Cantora por vocação, seus primeiros passos na música começaram na infância. Hoje, quatro discos depois, shows dentro do Brasil e fora, indicações ao Grammy Latino e participações em discos alheios, concluímos que Sandra é uma cantora híbrida: sua voz carrega os lugares por onde passou, os aprendizados com os amigos também artistas e a vocação para aveludar canções, dela ou de lavras alheias.
Formando-se em Odontologia pela Universidade Federal do Pará (UFPA) em 1982 (sim, é estranho mas é verdade),
Sandra abandona a capital paraense e parte para Brasília, onde trabalha nove anos como odontóloga. Antes de assumir namoro sério com a música, ainda abriu uma agência de viagens em Brasília em 1996, a “Duailibe Tour”.
Participações aqui e ali em discos de amigos passaram a acontecer, mas ainda faltava mais algum tempo pra estreia em disco. Dez anos se passam. Chega ao mercado “Do princípio ao sem-fim”, disco independente, indicado a três categorias no Grammy Latino de 2007. Produzido por Zé Américo Bastos e com produção executiva da própria Sandra, esse álbum é um verdadeiro petardo de canções: Fátima Guedes (Lua brasileira), Ivan Lins e Vitor Martins (Doce presença), Gonzaguinha (Morro de saudade), Fhernanda Fernandes e Luly Linhares (“Foi com você”. Fhernanda ainda aparece mais uma vez em parceria com Sarah Benchimol na canção “Refil”), Gilson Peranzzetta e Nelson Wellington (Ressurgir), dentre outros nomes não menos ilustres. É um belo cartão de visitas para uma cantora então estreante na época.
“A pesquisa foi deliciosa e profunda e o resultado está aqui. São canções e compositores que me arrepiam. Mais, transformam-me”. Assim Sandra explica-se no encarte de “A bossa no tempo – Sandra Duailibe convida Cely Curado” (2008), disco produzido por ela mesma onde, como o título já avisa, recebe essa convidada mais do que especial. No repertório, um mapeamento genuíno da minha, sua e da nossa Bossa Nova. Ah: ainda consta aqui a presença mais do que luxuosa de Roberto Menescal.
Três anos depois, em 2011, é lançado “Receita – Sandra Duailibe e Leandro Braga”, disco calcado em voz, dela, e piano, dele, dialogando em prol de um belo inventário da nossa música popular brasileira universal. Aqui, consta uma regravação de “Gota de Sangue”, composta e gravada por Angela Ro Ro em seu primeiro e homônimo disco de 1979. Durante a audição desse álbum, é notável o frescor e fineza que a voz de Sandra imprime as canções. A persona de compositora aparece novamente: “Bolerar” (Cassia Portugal, Marcia Forte e Sandra Dualibe).
Produzido e dirigido por Roberto Menescal, “Elas cantam Menescal” foi lançado em 2012. Trata-se de um disco colaborativo dividido entre Cely Curado, Márcia Tauil, Nathália Lima e Sandra Duailibe. Sobre ele, “Menesca” afirma: “logo senti que seria interessante juntar essas meninas num trabalho, pois cada uma delas tem uma personalidade musical totalmente distinta”. O universo musical do homenageado, rico por natureza, vai pra outro patamar com essas garotas espertas, que prestam uma homenagem bem sacada e conduzida. Ponto para nós, ouvintes.
A seguir, Sandra literalmente “abre o verbo”: falamos de todos os seus discos, relembramos sua época no Pará, ressaltamos as participações em discos de outros artistas, descobrimos quais cantoras Sandra gosta de escutar, colocamos a compositora emergente em questão, falamos sobre a paixão dela por Bossa Nova, por fim, nossa conversa fala de tudo com foco no que a faz feliz: música, logo, o que nos conduz a essa artista admirável. Confira:
Você nasceu em São Luís (Maranhão), sendo assim, qual a influência do Estado do Maranhão na sua música?
A música maranhense é rica e versátil e o que mexe especialmente comigo, com minha alma, é a diversificação dos ritmos.
Mesmo sendo maranhense da gema, você morou grande parte da sua vida em Belém do Pará, tendo iniciado com cinco anos os seus estudos de musicalização, o que inclui a prática do piano clássico até as suas 15 primaveras no “Conservatório Carlos Gomes”. E mais: você ainda se formou em Odontologia em 1982 pela Universidade Federal do Pará (UFPA). Como foi essa época da sua vida? O que você recorda?
Nossa! Muitas lembranças. Muitas saudades. Meus anos no Conservatório foram de aprendizado mais que musical. Adentrar no universo dos clássicos imortais só nos enriquece. E convivência com os professores e colegas em torno da arte é sempre salutar. Quanto à Universidade, foi um tempo de luta, estudo, descobertas. Exerci a Odontologia por 9 anos e adorei. Lidar com a saúde, recompor um sorriso... bom demais!
Tendo uma relação especial com a capital paraense (tanto você como eu), é inevitável perguntar: tens acompanhado o “boom” da música paraense na grande mídia? Qual é a sua opinião a respeito dessa redescoberta dos artistas paraenses?
Há talentos em todos os cantos deste Brasil. Que eles venham à tona.
Ainda falando do Estado do Pará: és ouvinte assumida de cantoras, portanto, quais cantoras, paraenses ou não, que andam habitando o seu som ultimamente?
Aff... tantas lindas vozes neste país. É difícil enumerar. Juro. De qualquer forma, dentre as paraenses destaco: Fafá de Belém, Jane Duboc, Leila Pinheiro, Gigi Furtado, Lucinha Bastos, Maria Lydia (grande compositora). Das nacionais: Fátima Guedes e Simone Guimarães, com quem fiz show recentemente. Um toque especial no mais recente CD da Fhernanda Fernandes; no DVD da Aurea Martins e no da Maria Rita, interpretando Elis; e no estouro da queridíssima Ellen Oléria.
Antes de debutar num disco solo, você fez quatro participações especiais peculiares com outros artistas: “Peregrino” (2004) do Antenor Bogéa, “Amorágio” (2005) do Salgado Maranhão, “Colagem” de Carlos Jansen (2008) e no DVD “Cotidiano” de Carlos Bivar (2011). O que essas gravações representam na sua carreira? Como as avalia? Como aconteceram?
Participar do CD do Antenor Bogéa em 2004 foi decisivo. Após os shows de lançamento e com o sucesso na mídia, decidi que seria "cantora de verdade". Entendi que meu canto era um dom para ser compartilhado com todos os que dele possam se beneficiar.
As outras participações foram acontecendo, sempre felizes.
Depois de duas demos, em 2006 é lançado de maneira independente o seu primeiro disco, “Do Princípio ao Sem Fim”. Lembrando que antes disso, logo após a sua formatura em Odontologia em Belém, você exerceu essa profissão durante nove anos em Brasília. A pergunta é: o que passava na sua cabeça na época de feitura desse primeiro disco (artisticamente falando)?
Como eu disse, após ter gravado no CD do Antenor Bogéa, em 2004, decidi me dedicar profissionalmente ao canto. Então, em 2005 eu fechei minhas 3 lojas em Brasília e fui pro Rio de Janeiro gravar meu primeiro CD, com o incentivo do maestro Zé Américo Bastos.
“Do Princípio ao Sem Fim” concorreu em três categorias no Grammy Latino (2007): melhor álbum do ano, melhor álbum de MPB e artista revelação. O que isso significa para você?
Muitoooooo. Foi maravilhoso ver meu CD de estreia ao lado de tantos artistas consagrados.
Gravado na Cia. Dos Técnicos em 2008, “A Bossa no Tempo” (que conta com a convidada Cely Curado), além de ser o seu segundo álbum, foi uma homenagem ao cinquentenário da Bossa Nova e a mudança da capital para Brasília. Quais as diferenças desse disco em relação ao seu antecessor? Ele saiu como você queria?
Sempre fui amante da bossa nova e homenagear esse movimento fazia parte dos meus sonhos. Além disso, o time de base desse CD é composto por músicos talentosos de Brasília. Eu e Cely, parceiras de shows, conseguimos mostrar no CD nossa sintonia musical. As participações especiais só abrilhantaram esse trabalho. Registrei minha primeira composição, “Onda do ar”, em parceria com Marcia Forte. Bárbaro!
“Receita” (2011), seu terceiro disco, conta com a sua voz e o piano de Leandro Braga. Você teve receio de que ele ficasse monocórdio? O que a levou a lançar um disco nesses moldes?
Cresci ouvindo e estudando piano. Me fascina sua sonoridade. Gravar um CD de voz e piano, era um sonho acordado. E ao encontrar o Leandro, não tive dúvida de que estava na hora.
Ainda em 2011, a convite do Itamaraty, você se apresentou em Atenas. Como foi esse show? Quais as suas memórias desse dia?
Foram 3 apresentações em Atenas, sempre com público feliz, animado. Bom demais cantar pros gregos! Farlley Derze me acompanhou ao piano e Antenor deu "canja". Inesquecível!
“Elas Cantam Menescal” (com você, Cely Curado, Marcia Tauil e Nathalia Lima) foi lançado em 2012. Como você foi parar nesse projeto? Qual a sua relação com as demais cantoras participantes?
O queridíssimo Menescal já havia participado do meu CD “A Bossa no tempo”, assim como Cely. Marcia e Nat são companheiras de Brasília, também frequentadoras do Clube da Bossa. A genial ideia partiu da Marcia e logo colocamos em prática. O CD está lindo. Conseguimos estabelecer uma harmonia musical super especial. Valeu!
Recentemente você fez show em Paris. Foi a sua primeira vez (cantando) por lá? Como isso aconteceu?
A primeira vez que cantei na França foi com Simone Guimarães e foi maravilhoso. Agora, participei do Festival Bossa Nova de Thiais, a convite do Antenor. Foi sensacional! A banda estava afinadíssima. O teatro é super antigo, com uma acústica perfeita e o público extremamente caloroso.
Em doses homeopáticas, o seu lado compositora vem aparecendo e se fazendo presente. Pensas em lançar um disco somente com composições próprias?
Há muitos desejos musicais por realizar, mas, é claro que mais adiante, planejo, sim, gravar um CD autoral.
Como você lida com a linha tênue entre música como arte e música como entretenimento? O que pensa a respeito disso?
Eu trato a música com muita seriedade. Sou super responsável e respeito demais meu público. Todavia, entendo que a música seja, sim, um entretenimento e isso não me incomoda em nada, até porque, ao meu ver, é uma das melhores formas de se entreter, distrair, divertir.