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Teresa Cristina

Flor genuína do samba tupiniquim, Teresa Cristina começou a desabrochar em 2002, e com pompa: "A Música de Paulinho da Viola", disco duplo lançado pela Deckdisc, marca o começo de carreira que atualmente, após sete álbuns lançados, quatro DVDs, parcerias com nomes consagrados da música brasileira e diversos shows, tanto no Brasil como fora, carimba esta artista como bem Caetano Veloso e Wally Salomão diriam: "a voz de uma pessoa vitoriosa".
 
Para quem quer conferir Teresa em ação, ela está em cartaz com dois shows na praça: cantando Candeia, "finalmente", e outro com direção de Marcio Debelian, defendendo o repertório de ninguém menos do que Elizeth Cardoso. Prendada, não para por aí: "tenho composto também e espero preparar um CD de inéditas pra depois da Copa e eleições, ou seja, pro ano que vem. 2014 já quase deu, né?".
 
 
Entre um afazer e outro, Teresa relembra sua trajetória, desde o final da década de 90, passando por ídolos antigos, seu debute fonográfico, sua relação íntima com a Umbanda, o encontro com colegas de ofício, o mergulho no rock e chegando ao momento atual, com todas as dificuldades que acompanham os artistas brasileiros no fazer artístico. Confira:

 

Analisando hoje, como você vê a sua estreia em disco em 2002, com o álbum dedicado a Paulinho da Viola? Saiu como você queria? Qual o peso dele na sua discografia?
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Na época não puder perceber o alcance do que estava fazendo, era tudo muito novo e encantador. Hoje vejo como um presente, uma maneira deliciosa de invadir a vida de quem não me conhecia. É um trabalho que me enche de orgulho, pra sempre.
 
Em 2008, você dividiu CD/DVD com Rita Ribeiro e Jussara Silveira, “Três Meninas do Brasil”, como surgiu o convite? Como foi trabalhar com elas? Alguma história em especial marcou essa época?
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O convite surgiu a partir de um show que fiz com Rita cantando o samba do Maranhão. Foi um encontro enriquecedor pra mim, que comecei a cantar meio no susto, sem técnica especializada. Ali estava diante de duas cantoras incríveis, com vozes bem colocadas, refinadas. Conseguimos timbrar nossas vozes de um jeito que me tocou bem fundo. Pude perceber o encanto de canções que não experimentaria cantar se não fosse o encontro. Gravar esse DVD me enriqueceu como cantora, percebo isso claramente.
 
“Teresa Cristina+Os Outros=Roberto Carlos” é momento ímpar do seu trabalho. Muitos se surpreenderam, como se você não pudesse cantar algo que não seja samba, percebestes isso? Qual a tua opinião sobre o estranhamento, a primeira vista, de muitos?
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O estranhamento diante do novo é natural, a história do mundo sempre mostrou isso. Acho que quem estranhou mais na verdade nunca me conheceu direito. Sempre citei as canções de Roberto e Erasmo como fundo musical da minha infância, são músicas que sempre cantei com minha mãe em casa – aprendi tudo com ela. O desafio de gravar esse repertório com uma banda de rock soou tentador pra mim. Cantora de samba não pode cantar rock? Quem disse? Se for verdadeiro pra mim, há de ser pra quem me ouve. E eu amei gravar esse CD.
 
Teresa, durante toda a sua trajetória, qual foi o momento onde você pensou: “caramba, esse trabalho é mais difícil do que eu imaginava”? Deu vontade de desistir? Cantar, no Brasil, é só pros fortes?
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Reafirmo o que você disse: cantar, no Brasil, é pros fortes! Cantar e compor música brasileira é pra quem não desanima, quem insiste, quem não deixa de acreditar na força das canções que carrega. É colocar todo dia uma canção dentro de uma garrafa e lançar ao mar. Nunca sabemos onde vai dar, quem a abrirá. Por isso continuamos a lançar nossa música por aí. Vai que algum dia alguém acha?
 
 
 

 

Teresa, você não esconde de ninguém que não nasceu sambista. Porém, o que achas que teria acontecido se o seu pai não tivesse lhe mostrado a obra de Candeia quando tinhas oito anos de idade?
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Certamente iria me encantar ao encontrar com a obra de Candeia, mas não sei se teria o ímpeto de querer cantar aquelas músicas... Talvez não tivesse me tornado cantora... Realmente não sei dizer.
 
Desde que você começou a cantar, lá em 1998 na Lapa, já lançastes sete discos e quatro DVDs, o que a artista aprendeu nesse tempo todo? Olhando pra trás, se arrepende de algo? Mudaria alguma coisa?
 
Aprendi a viver, né? E principalmente, viver da música. Amo o que faço, adoro cantar e compor. Em todo o país que cheguei pra cantar sempre falei a mim mesma: a música me trouxe aqui! Agradeço muito a Deus por isso. Certamente me arrependi de muitas coisas, mas parecem irrelevantes agora. O que desejaria mudar não depende tanto de mim. Gostaria de mudar a maneira como se vive de música no Brasil. Existem muitas dificuldades a serem ultrapassadas. O artista que quer mostrar sua música no país se depara com um custo de produção enorme. Quem ainda não conseguiu um patrocinador para bancar suas passagens e estadias no Brasil afora – como é o meu caso – tem que rebolar, e muito. Às vezes fica a impressão que só se dá dinheiro a quem já tem. Mas o amor que falei lá no início da resposta me ajuda a transpor muitas barreiras e eu sigo em frente, graças a Deus.
 
No dia 19 de novembro de 2013, fostes condecorada/homenageada pela Alerj pela sua relação com a Umbanda. Nestes tempos de polêmica quanto a ela não ser considerada uma religião, o que pensas sobre isso? Por qual motivo ela sofre tanto preconceito e perseguição?
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A perseguição aos templos religiosos de origem africana sempre foi cinicamente silenciosa. Agora acho que o silêncio está dando lugar a gritos desprovidos de estudo e respeito. Pertenço a uma religião que é passada adiante por uma forte tradição oral. Muito da cultura brasileira vem por esse caminho oral. E isso não a torna menor, sem expressão. Os argumentos usados para rebaixar a Umbanda e o Candomblé são de baixíssimo nível. Dá preguiça até de discutir. Ainda mais quando um pensamento retrógrado e consequentemente racista parte de uma pessoa letrada, um juiz de direito! Uma mente precisa ser muito pequena para não reconhecer que em todas as religiões a presença de Deus é soberana e essencial. Se ele não quiser chamar de Olorum ou Oxalá, está no seu direito. Deus é um só e somos todos filhos dele. Não faço parte de uma seita, pertenço a uma religião que tem em sua base, em seus princípios, a paz o amor e a caridade. É através dela, inclusive, que aprendi a lidar com pessoas como esse doutor.
 
No último dia 28 de maio, um dos seus grandes ídolos, Cyro Monteiro, completou 101 anos, o que te atrai tanto no trabalho dele? Alguma homenagem em vista?
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Cyro Monteiro, em minha humilde opinião foi o maior cantor de samba que esse país já viu. Dono de um canto sincero e encantador, carregado de um humor singular. Paulo César Pinheiro já me falou tão bem dele – e são muitas passagens do querido Formigão. Foi conhecido por seu bom gosto musical e também por sua generosidade. Eu amo o repertório do Cyro, ouço muito em casa. Minha homenagem pra ele segue em vida, sempre que posso coloco algum dos seus achados no meu repertório. Uma dica surpresa: procurem a gravação dele de um samba do Geraldo Pereira chamada Mais cedo ou mais tarde. Você vai entender perfeitamente do que eu estou falando.
 
Nossa pergunta clássica: “cantora sem fã gay a carreira não decola”, procede?
 
Hahhahahhaha.

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