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Karyme Hass

Curitibana de nascimento, radicada no Rio de Janeiro, Karyme Hass é mulher de verdade. Mãe, cantora e compositora, assume de peito aberto a sina de fazer arte no Brasil. Bem nova, participou de coral de igreja. Já na adolescência, escapava do cerco familiar quando os pais dormiam. Nessa hora, saia à surdina de casa. O elevador do seu prédio virava camarim: maquiagem e últimos retoques no cabelo ali mesmo. Seu destino? Bares da cidade. Já queria cantar, precisava.


Em busca do tão aguardado primeiro disco, gravou “Tempo de gritar” de maneira independente com produção de Paulinho Dafilin e Nestor Madrid. Mesmo não sendo oficialmente comercializado, serviu para dar um aperitivo do que Karyme Hass é como artista. O resultado? Gravadoras se interessaram. Primeiro passo dado.

O sonho começava a se delinear com mais força. Estamos em 2001. Karyme assina contrato com uma grande gravadora: EMI. Por ela, dois anos depois, em 2003, chega ao mercado “Faces e fases”, produzido por Nilo Romero. A música que deu título a esse álbum ganhou videoclipe dirigido por Mauricio Eça veiculado nos canais pagos MTV e Multishow. Juntando-se a essa canção, “Saindo do inferno” e “Junto ao mar” tocaram em diversas rádios. A cereja do bolo foi comemorada com a inclusão, até a segunda fase, do Prêmio Tim de Música na categoria “Revelação”. Além disso, ainda gravou “Coração insano” para a novela “Prova de amor” da TV Record.



Se o famoso e temido teste do segundo disco existe, Karyme passou por ele sem colar. Lançado em 2008, cinco anos após a estreia, ganhou produção e arranjos de Nilo Romero, repetindo a dobradinha que vem desde o disco anterior. Formado por 11 canções, oito delas compostas por Karyme, sozinha ou com parceiros, uma regravação de “Animal” (Rodrigo Bittencourt, que participa nos vocais), outra de “Simplesmente” (Samuel Rosa), e uma versão em português do clássico atemporal “Close to you”, que virou “Sonho Azul” (Karyme Hass e Tom Arruda). Complementando a coerência, o auxílio luxuoso de Paulinho Moska nos violões de “Carne Vermelha” (Karyme Hass).




Dando nova guinada musical, Karyme pede licença aos orixás e entre com os dois pés juntos no samba. “Barra da saia”, lançado em 2012, é um mergulho pelo melhor que esse gênero pode oferecer. Parceiro nessa empreitada, Carlinhos 7 Cordas produziu, dirigiu e ainda selecionou repertório junto a própria Karyme para esse álbum. No repertório, sete canções de lavra própria e sete regravações, como “Peito vazio” (Cartola e Elton Medeiros), “Saudosa maloca” (Adoniran Barbosa), passando por “Vou partir” (Nelson Cavaquinho e Jair do Cavaquinho), dentre outros. Coroando sua passagem pelo samba, Zeca Pagodinho na faixa que dá título ao disco, “Barra da saia” (Karyme Hass e Carlinhos 7 Cordas).



Na entrevista a seguir, relembramos a fase em que Karyme fugia de casa para cantar, falamos dos primeiros passos na carreira, das dificuldades de se fazer música no Brasil, do processo de feitura do seu primeiro clipe oficial, assim como dos seus três discos, como por exemplo, quando Karyme teve que vender o próprio automóvel para lançar o seu debute fonográfico. Também sabemos do dia em que ela tomou cerveja com o Zeca Pagodinho, da aventura que foi fazer uma versão de “Close to you”, de como uma música sua foi parar em trilha de novela e até da possibilidade da filha dela vir a ser cantora. Confira:

Quando você tinha 15 anos esperava os seus pais dormirem para sair de casa e cantar nos bares, fazendo de um elevador o seu camarim. Saber disso já me fez simpatizar imediatamente contigo. E ainda tem a voz incrível. Como foi essa época?


Foi uma época de risco, aventura e muita paixão pela música! Pois eu ainda era menor e nada mais normal do que meus pais não autorizarem a minha saída. Mas não adiantava! Fiquei quase um ano saindo à 1:30 da madrugada e voltando às 5:00 da manhã. Como o bar ficava próximo da minha casa, ia a pé disfarçada com um sobretudo preto e chapéu. E cantava na época no bar EL PEPE. Inesquecível! Faria tudo outra vez!



Seu primeiro álbum, “Tempo de gritar”, produzido pelo Paulinho Dafilin e o Nestor Madrid despertou o interesse de algumas gravadoras. O que você recorda do tempo de feitura desse disco que virou raridade atualmente? Você penou muito para poder gravá-lo?


Tenho saudades do tempo em que morei em São Paulo! Foi lá que o Tempo de Gritar nasceu. Tudo foi feito com calma,verdade e amizade! No estúdio nós (Paulinho Dafilin e Nestor) trabalhamos duro e também nos preocupamos em dar o melhor para as canções. Devo muito a este álbum! Pois foi através dele que assinei com a EMI Music em 2001. Porém, não foi lançado no mercado e a maioria das faixas foram regravadas com nova roupagem no álbum seguinte, Faces e fases, com a produção de Nilo Romero. Por isso ele não recebe número em minha discografia.



Após o lançamento desse primeiro disco, você fechou contrato em 2001 com a gravadora EMI. Como aconteceu essa transição? E o que melhorou na sua vida artística?


Assinei o contrato com a EMI em 2001. O álbum Faces e fases ficou pronto em 2002, sendo lançado em 2003. Foi uma das melhores épocas que vivi, pois ter o apoio de uma gravadora ainda torna real a ponte entre artista e público. Porém, na época do lançamento a equipe que trabalhava em prol deste projeto, foi inteiramente demitida, desde o presidente até o profissional de marketing. Automaticamente isso respingou em todos os artistas que estavam no casting daquela gestão.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 



Sentiu-se traída quando a EMI rescindiu o contrato com você devido as mudanças na gerência da empresa? Como foi isso?


(risos) Isso foi uma frase que um jornalista colocou de modo destorcido. Em momento algum me senti traída. Mas é complicado você batalhar tanto, chegar tão perto e de repente perder tudo! Mas isso só me trouxe força, clareza e maturidade para ir adiante.

Seu segundo disco, “Faces e fases”, saiu pela EMI. De repertório eclético, mostra os seus gostos musicais. Você não tem medo de ficar rotulada como uma cantora que “canta de tudo”? Existe essa preocupação?


























Não. Sempre cantei música brasileira, gosto de apresentar o novo e também de resgatar os clássicos. Sempre me preocupando com a linhagem e colocando a minha digital. Nos meus álbuns tenho a preocupação de torná-los dinâmicos e conectados, textualmente e sonoramente.



Quais as principais diferenças do “Tempo de gritar” e o “Faces e fases”? Como você os enxerga hoje em dia?


A diferença é a evolução, sem dúvida! A cada álbum a tendência é melhorar. E tem também o momento em que se está vivendo, que em minha opinião direciona tudo! A escolha de repertório, o sentimento que te circunda e o primordial, a mensagem que se quer passar.




Como o “Faces e fases” saiu por uma grande gravadora, você teve toda a liberdade para fazê-lo da sua maneira?


Nunca tive este problema. Sempre escolhi as músicas. O que me apresentavam, tinha a opção de colocar ou não no disco. A única coisa em que na época discordei foi a ordem que Nilo e eu desenvolvemos dentro do conceito, mas que mexeram no CD Faces e fases que inclusive ficou disforme. Não funcionou.

































Produzido pelo Maurício Eça, o clipe “Faces e fases” foi transmitido pela MTV e pelo Multishow. Como surgiu a ideia para ele? O que recordas do processo de filmagem dele?


Foi mágico! Por sinal está na hora de repetir! Ainda em São Paulo gravei este clipe em um galpão e chamei todos os meus amigos para participar! Foi uma festa! A idéia veio depois que vi o Filme Dogvill de Lars Von Trier. Achei genial a forma simples com que o filme foi feito, visando à imaginação e o roteiro. A idéia de não ter locações, construção de cenário, me deixou admirada. E quis repetir essa estética no clipe, pois queria que o público tivesse somente o acesso às personalidades e ações ali mostradas.

Qual foi o seu sentimento ao saber que o “Faces e fases” chegou até a segunda fase no prêmio Tim de Música na categoria Revelação?


Estava na rua quando fiquei sabendo! O meu noivo (Carlos), me ligou e disse: "você está sentada?" (risos) Adorei! E fiquei na torcida, pois se eu conseguisse pelo menos a indicação, poderia melhorar a minha situação, já que sem gravadora, vendi meu carro para colocar o álbum no mercado.



Como a canção “Coração insano” foi parar na trilha da novela “Prova de amor” da Record?



Através do meu empresário na época, conheci o Manoel Barembein da Rede Record, ele queria uma voz forte para interpretar essa música, algo meio roqueiro. Então como tinha um pezinho na garagem, gravei. Ela representava  a vilã da novela, “Elza”, vivida pela atriz Vanessa Gerbelli.



Seu terceiro disco: “Amor solene”. Você já declarou há um tempo atrás que ele foi o melhor disco que você gravou. Ainda achas isso? E por quê?




























Na época falei o que sentia e normalmente sou assim em tudo que resolvo fazer. Creio e entro de cabeça! Este álbum, dentro da minha evolução foi muito importante. Pois ouvindo ele, percebo o salto artístico que dei não só na interpretação como na escolha de repertório. Hoje já vivo um outro momento, mas tenho muito orgulho de cada um que gravei!



Um fato curioso: consta em “Amor solene” uma versão de “Close to you” (Burt Bacharach) intitulada “Sonho azul”. Como surgiu essa versão e como foi o dia em que você conseguiu autorização para gravá-la?


Cresci ouvindo Carpenters, em especial Close to you. Um dia estava em casa lavando a louça e comecei a cantarolar essa música e a idéia surgiu. Porque não em português?! Chamei meu parceiro de composição Tom Arruda e ficamos uma tarde inteira criando essa versão. Lembro bem que a gravamos em toca fitas e deitados no chão ficávamos repetindo a gravação e imaginando qual seria a reação das pessoas ao ouvi-la em português e se nós conseguiríamos um dia ter a autorização para gravá-la. Passado um ano Burt Bacharach estava no Brasil! Então liguei para um grande amigo jornalista e crítico musical, Toninho Spessoto, hoje já falecido. E mostrei a versão . Ele adorou e mostrou para a produtora amiga dele que estava fazendo o camarim do Burt no HSBC SP e me levou até lá. Entreguei a versão na mão do Burt, foi uma honra! Logo falei com a Editora e veio a liberação.














A sua filha criou a melodia de “Brincar de amor” no “álbum “Amor solene”“. Qual foi a sua reação? Se ela quiser ser cantora, já está aprovada?



Sim, foi ela que criou. Orgulho de mamãe! Hoje ela é roqueira, ama Nirvana, Metalica, Guns N' Roses, Raimundos, Charlie Brown Jr... está estudando violão e tem a parede do quarto cheia de posters, um barato! Vamos ver! Se ela quiser vou dar o maior apoio! Mas já aviso que é uma estrada longa e sinuosa!

Conte-nos sobre o seu mais recente disco, “Barra da saia”. Como foi a concepção dele?



Barra da Saia é um álbum que gosto muito! Nele fiz releituras de grandes clássicos do samba, gravei inéditas de grandes compositores da atualidade, e tive a oportunidade de mostrar os meus primeiros sambas navegando neste universo cheio de riqueza e alegria! Acompanhada de grandes nomes! A idéia de fazer um álbum de samba cresceu assim que cheguei no Rio de Janeiro. Era muito estranho, todas as canções que vinham eram samba então resolvi me entregar de fato!




























Ainda falando no “Barra da saia”: nele você se aventura pelo samba. Dentro de você mora uma sambista também? O que te atrai nesse estilo?



Não estou me aventurando, acredito que o samba tem o poder de escolher os que o representam. Não sou sambista. Mas sou brasileira e gosto de samba . O que me atrai é o estilo de vida que o samba proporciona. Simplicidade, leveza, alegria, compromisso com o bem...




Zeca pagodinho participa da faixa que dá título ao seu mais recente disco, “Barra da saia”. Como aconteceu essa ideia de convidá-lo? Como foram as gravações? Vocês tomaram cerveja juntos (risos)?



(risos) Conheci o Zeca através do meu produtor Carlinhos 7 Cordas, num almoço na casa dele, que comemorava o aniversário do Baixinho, seu caseiro, que ele cuida com muito carinho! Conversa vai e vem, cervejinha gelada e tocamos a música para ele ouvir. Ele na maior simplicidade começou a cantar junto, disse que gostou da música e topou fazer a gravação, que rolou no estúdio dele na Barra. Foi uma grande surpresa e honra pra mim!!!




























Nossa pergunta clássica: “cantora sem fã gay a carreira não decola”. Procede?



Acho que a linguagem musical transcende as diferenças. Não existe cor, crença, classe social e muito menos escolha sexual. Música é para todos. A carreira decola se você através da música, atingir a alma das pessoas e/ou participar de seus cotidianos.



Vendo fotos suas na internet alusivas a tua carreira, percebo que tens um chama com a parte estética: figurinos, maquiagem, dentre outras coisas. Você mesma que cuida dessa parte “alheia”?


Gosto de me arrumar e sempre crio os conceitos, mas para alguns trabalhos tenho profissionais /amigos que me auxiliam. Mas quando o cinto aperta faço a produção junto com a minha maior parceira! Minha mãe!
 

Contando com o seu disco independente, você já soma quatro discos. Quando vais lançar um DVD de show?




Meus álbuns mercadológicos são 3 – Faces e fases/ 2- Amor Solene/ 3- Barra da saia.


Ainda não sei quando vai rolar um DVD mas adoraria ter a oportunidade de gravar um!



Quais os planos para a carreira daqui em diante?




A ideia é fazer chegar o novo álbum o mais próximo do público, para que as mensagens gravadas nele sejam entendidas e vividas. Acho que a música tem o poder de eternizar momentos.


Gosto de viver o presente e neste momento é esse o plano.

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