top of page



“Na telha” (Kleber Albuquerque) parece faixa de trilha-sonora de musicais. Assim como também lembra músicas de bordeis antigos. Poderia estar tocando como tema do Bataclã no remake da novela das 11h Gabriela. A letra irônica parece ter sido escrita em décadas passadas. Um verniz vintage.

 

“A mulher do sacana” (Aretha Marcos) poderia estar no repertório da cantora Silvia Machete. É uma música deliciosamente e descaradamente brega.  Tem um registro vocal grandioso. O teclado no arranjo nos transporta para o passado. Aqui comprovamos (mais ainda) que Aretha realmente interpreta as canções. Gutão faz um vocal em espanhol estilo faroeste no final dessa faixa.



A sétima faixa é uma ousadia. E de cantoras ousadas à indústria fonográfica está anêmica. Trata-se de “Resposta ao tempo” (Aldir Blanc e Cristóvan Bastos). A audição dela faz com que o ouvinte morra aos poucos. O arranjo nos induz a acreditar que algo vai explodir, mas sempre fica no extremo de quase explodir de fato. A bateria no arranjo ganha destaque. A interpretação fica no mesmo nível das nossas grandes intérpretes brasileiras. A sensação é de um lugar ameno. Um cheiro de saudade. Uma vontade de pedir bis para sempre. Sinestesia mesmo (me faz ter saudades de mais cantoras que me emocionem).



Vamos pular a faixa oito. No final você entenderá o motivo.



A faixa nove, “A little les conversation” (Billy Strange e Mac Davis) é praticamente um aviso de que não adianta tentarmos rotular ou classificar o trabalho da Aretha. Limitaria o que ela pode fazer num disco. É um rock para bater cabelo e ser feliz. Aretha se apropria totalmente dessa música.

 

“Tempero” (Xande Mello) usa de metáforas com plantas e ervas para falar de um relacionamento: “eu te ervo, macero sua essência em rios de bruma, eu te manjerico, você me alecrinha, te salsaparrilho, você me azevinha, te poejo o mundo...”. É uma música rápida que acaba fluindo bem nos ouvidos de quem a escuta. Ainda mais com o coro no meio dessa faixa.



A última faixa, “Because” (John Lennon e Paul McCartney) faz jus ao termo “Beatle Mania” (Aretha deve ser dessa turma também). É uma canção executada como nos tempos idos do rock de verdade: sem frescura e direto ao ponto. Atenção para o teclado diferenciado nessa faixa.



Agora voltemos à faixa oito. Uma regravação totalmente pessoal de “Non, je ne regrette rien” (Michel Vaucaire e Charles Dumont). Só lembrando que esse clássico ficou imortalizado na voz da cantora francesa Edith Piaf. Aretha interpreta essa música de maneira definitiva. A letra justifica e responde algumas coisas da vida dela: “Non, rien de rien, non je ne regrette rien. Ni le bien, qu’on m’a fait, ni le mal, tout la m’est bien égal (Não! Nada de nada...Não! Eu não lamento nada...Nem o bem que me fizeram. Nem o mal - Isso tudo me é igual!)”. Esses versos funcionam como um acerto de contas com seus detratores. Aretha consegue aqui o ápice, seu melhor desempenho vocal.  E é a última música citada para ser a primeira que você vai lembrar quando escutar esse disco.

 

Aretha - Aretha

Deixe o seu comentário:

Aretha Marcos viveu os sabores e dissabores da fama na década de 80. Brilhou e ficou reconhecida no Brasil apresentando os musicais infantis da TV Globo. Maria Bethânia disse uma vez que o sucesso é um senhor perigoso. Deve ser mesmo. Depois da explosão de seu nome, Aretha viveu no ostracismo total. Sumiu de vista. Uma coisa quase impossível de ter acontecido, afinal, ela é filha da extraordinária cantora Vanusa e do compositor Antônio Marcos.

Acertos de contas também são bons de acontecer. Aretha voltou. E o faz com sede de música. Um disco homônimo coroa essa volta. Quem nasceu para a arte morre junto com ela. Vamos conhecer melhor esse disco?



“Em cima do morro” (Eduardo Pitta, Sissi Abreu e Pedrinho Furtado) tem um arranjo certeiro que sincroniza perfeitamente com a voz da Aretha.  Também lembra os saudosos tempos da Jovem Guarda. É 

uma delícia escutá-la cantar versos como “eu queria estar contigo na cama”. Complementando essa faixa, uma parte falada em espanhol que diz “vamos a bailar”. É uma música cativante.

“Malabarista” (Marilia Duarte) vai ganhando densidade. Muda de ritmo, fica noturna, dando a impressão de que Aretha a está cantando num cabaré lotado de messalinas chiquérrimas. Ela também dá a essa interpretação um toque de provocação: “acho que o nosso fim foi sempre seu, cadê aquele homem, cadê?”. No final, essa música vira um rock melhor do que 90% das bandas brasileiras que afirmam fazer rock. Atenção especial para o final dessa faixa.



Em “Tudo que posso com você” (Aretha Marcos) a cantora brinca com a voz, que desliza na composição dela mesma.  A letra descreve uma mulher decidida, ciente da situação: “mas eu posso tudo com o teu amor em mim, você me acalma”. O solo de guitarra excepcional se destaca também.

Escute o disco na integra

1 - Em Cima do Morro

2 - Tudo que posso com você

3 - Malabarista

4 - Escada a baixo

5 - Na Telha

6 - A Mulher da Sacana

7 - Resposta ao Tempo

8 - Non, je ne regrette rien

9 - A little less conversation

10 - Tempero

11 - Because 

bottom of page