Karina Buhr - Longe de Onde
disco que começa com um roquinho gostoso, com partes gritadas, chamado “Cara Palavra” (Karina Buhr)?
A música seguinte, “A Pessoa Morre” (Karina Buhr), mesmo com a letra aparentemente triste, traz uma análise sobre algumas coisas que as pessoas fazem para depois morrerem.
“Não me ame tanto” (Karina Buhr) vai à contramão do atual modismo que se instalou em grande parte das cantoras atuais: falar de amor de uma forma açucarada, fazendo o ouvinte enjoar. É interessante ouvir uma mulher pedir para não ser amada tanto por ter algum problema com o amor demais. Coisas amorosas, quem as entende? Chama (bastante) a atenção a última parte dessa faixa: “Pego tudo/O meu e o seu amor/Faço um bolo de amor/E jogo fora/Ou como e gozo/Dentro”. Finalmente, em pleno século XXI, mesmo em meio a uma sociedade machista e patriarcal, uma mulher tem a ousadia de, como muitos homens, pegar o amor, joga-lo fora. Antes disso, gozar. Mulher também usa os homens. Ou mulheres. Ou os dois.
Depois do flerte com o rock, perspectivas sobre a morte, a tentativa de resistir ao amor, chega a critica social em “Guitarristas de Copacabana” (Karina Buhr). É isso mesmo que você leu. Ainda existem cantoras que criticam o sistema, as disparidades sociais, os problemas do mundo de uma maneira geral. Aqui a mensagem, envolta num riff marcante de guitarra (e olha que nem entendo nada de instrumentos), é clara e direta. Karina fala de uma (ou das) pessoas que não tem o melhor travesseiro do mundo (a consciência tranquila) e tentam compensar esse fato com afazeres domésticos feitos de maneira prolongada. Como ela mesma diz, passar o dia cozinhando arroz na panela.
“Sem fazer ideia” (Karina Buhr), a faixa seguinte, dá a impressão de ser resultado de uma viagem alucinógena a respeito de inconformidade sobre um lugar onde a pessoa está, mas não pertence.
Os mais conservadores podem rotular “Pra ser romântica” (Karina Buhr) como uma faixa brega de potencial melódico raso. Quem não sente vontade de viajar de carro com os amigos cantando a plenos pulmões o refrão dessa faixa?
“Cadáver” (Karina Buhr) traz uma mensagem muito forte para o ouvinte. Buhr afirma que o tempo vai passando, suas qualidades vão sumindo, e o seus defeitos aparecendo cada vez mais, cadáver. Uma pausa pra reflexão, dois pontos: será que, no processo de envelhecimento, nossos defeitos se sobrepõem as qualidades até chegarmos ao leito de morte?
Única faixa do disco composta em inglês, “The War’s Dancing Floor” (Karina Buhr) lembra os melhores momentos de Debbie Harry a frente do lendário Blondie.
“Copo de Veneno” (Karina Buhr) traz um protagonista pedindo pela morte igual as crianças que pedem balas. Como até pra morrer dá para enfeitar, sendo chique, Karina pede seu copo de veneno com duas pedrinhas de gelo. A morte não precisa ser ruim, não é?
A penúltima música, “Amor Brando” (Karina Buhr), é de uma leveza e suavidade tocantes. Karina cantando e Edgar Scandurra na guitarra. Ela também sabe ser fofa sem ser piegas, demasiadamente chata.
Encerrando o disco, “Não Precisa Me Procurar” (Karina Buhr) dá a entender que as pessoas, depois de muitas lutas, confrontos com si mesmas e com outras pessoas, vão perdendo o medo.
Karina Buhr não é só maquiagem pesada, performance enlouquecida, digna de rockstar. É uma cantora que sabe o que dizer e como dizer.
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Belchior nasceu muito antes de o Brasil saber quem é Karina Buhr. Aparentemente, uma cantora estranha, com músicas que incomodam. Um trecho de "Apenas um rapaz latino americano" define a moça: “Não me peça que lhe faça uma canção como se deve/Correta, branca, suave, muito limpa, muito leve/Sons, palavras, são navalhas e eu não posso cantar como convém/Sem querer ferir ninguém”. Ela é (bem) diferente da atual safra da chamada nova geração de cantoras de música popular brasileira. Nomenclatura que chega a dar sono.
Seu segundo disco, “Longe de Onde”, foi lançado em novembro de 2011. Na época da música descartável, que cai na vala do esquecimento rapidamente, o disco continua atual e contundente. A mensagem contida nele faz refletir. Impossível passar incomum a audição dele. Como resistir a um