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Karla Sabah - Amor Canalha

Karla Sabah voltou. Depois de três anos sem lançar um disco novo, chegou às lojas no último mês de outubro o seu quarto álbum solo, “Amor Canalha”, pela gravadora LGK Music com produção de William Magalhães.

Depois do introspectivo “Cala a Boca e Me Beija” (2009), Karla resolveu extirpar de si as muitas e milhares de mulheres que vivem dentro dela em todas as suas facetas. Para isso, utilizou composições que vão de Caetano Veloso a Ronnie Von, passando por Oswaldo Melodia e Roger Rocha Moreira, dentre outros e composições próprias assinadas com parceiros. Afinal, nada melhor do que um time eclético para tentar explicar o universo prolixo das mulheres.

Neste disco, Karla se porta como uma mulher que comanda as outras. Para isso, precisa e deve mostrar ao mundo que o universo feminino comporta samba, balada, eletrônica e tudo mais que interesse. Logo, se o Brasil oferece uma gama de ritmos e mulheres diferentes umas das outras, nada mais coerente do que fazer o disco mais feminino do ano. Vamos a ele.

A letra de “Não me quebro à toa” (Oswaldo Melodia) pode ser um recado alusivo à omissão da tal imprensa especializada em cultura em relação às cantoras independentes: “sou obra boa, sou arte divina, não me quebro à toa, onde escorreguei, ainda ficou lodo para alguém escorregar”. O mesmo recado vale para os críticos chatos, que denigrem um trabalho alegando uma suposta falta de alma: “agora, ninguém mais me joga pedra, porém já jogaram tantas, pensam que me destruíram. Vocês sabem, quando cai um castelo aqui, levanta-se outro ali, recuperando o que desmoronou”. Nada melhor do que colocar os pingos nos is para começar um disco. Próxima faixa.

Quer saber o motivo da Karla querer cantar samba? Comece então com “Mulher que não dá samba” (Paulo Vanzolini). Nessa mesma canção ela responde a essa indagação: “mulher que não dá samba eu não quero mais”. Destaque para a conga mafram de Maracanã, além de mostrar um pouco da potência vocal da Karla (no final) e ser uma faixa bem gostosinha.

“Já é” (Johan Luz, William Magalhães e Karla Sabah) tem versos deliciosos: “as outras mulheres não tão com nada, eu só quero você, marrenta, dengosa, morena, sensual, quero ficar com você”.  É a típica canção que faz o ouvinte ter vontade de cantar junto. Fazendo o que letra diz, como por exemplo: “fechou! Vou te levar. Cair no samba até a noite acabar, já é! Tô na moral minha namorada”.  Letra desencanada, simples e direta.

“Ela me descartou” (Ritchie e Bernardo Vilhena) começa com a Karla falando, em tom bem sério o título dessa música. Te pega de surpresa. É super anos 80 (o arranjo remete a essa década, saudosista mesmo). Dá vontade de “colar” corpo com corpo numa festa retrô e se esbaldar, principalmente quando ela canta assim: “e se você só quer mais uma carona, vem comigo que tá tudo bem, eu não quero mais saber dessa zona, vem a pé que eu já fui de trem”.

“New Love” (Tim Maia) foi regravada pela cantora Izzy Gordon no seu último disco, “Negro Azul da Noite”. A versão da Karla poderia estar embalando algum casal dos filmes do Woody Allen – encaixaria perfeitamente na trilha-sonora dos filmes dele. Chega a ser etéreo quando ela canta os seguintes versos: “ooh, looooove, ooh, looooove, i’m so glad, that i found you”. Termina com um “i Love you baby” falado e bem sexy.

“Mamãe coragem” (Caetano Veloso e Torquato Neto) ganhou um arranjo que lembra (muito) Portishead.  E é um dos melhores do CD. O baixo elétrico de Gerson Conceição engrandece essa canção. Faixa estranhamente interessante (vocalmente e arranjo) que tem mudanças de andamento oportunas e bem sacadas.  É uma das grandes canções desse disco.

“Volta Comigo” (Roger Rocha Moreira), além de ter uma letra inteligente, conta com versos ótimos: “mas você pensa bem e vê o que é que você me diz. Você bem que podia liberar esse galho, garanto pra você que ia ser legal pra caralho”. O arranjo original e ousado torna essa faixa um tesão. Pra escutá-la dançando e tomando um Dry Martini.

“Click no meu link” (Johan Luzi, William Magalhães e Karla Sabah) é mais uma faixa que faz o ouvinte querer cantar junto: a simplicidade e sinceridade da letra ajudam nesse aspecto: “vem no escuro, to sem medo, me descobre algum segredo, abra a boca, mas não fale, tira a roupa, ainda é cedo”.  Só resta uma pergunta: que ouvinte não vai querer dar um click no link dela?

“Minha” (Cartola) é uma canção renovada em todos os aspectos, indo na contramão dos registros de quem canta o repertório desse exímio compositor. Isso se chama PERSONALIDADE. O arranjo leva essa composição para uma atmosfera inusitada, e que funciona.

“Amor canalha” (Meg & Nil e Karla Sabah) começa com uma parte falada certeira. Quando passa a cantar, já “pegou” o ouvinte. As ironias da letra ganham destaque: “acho que te magoei sim, e jamais vou esquecer, a canção que fiz pra você, está tocando na novela”. Ou: “o que sou de verdade, ou qualquer coisa que o valha, nada pra te oferecer, a não ser esse amor canalha”. Mudanças de andamento colaboraram para tornar essa, a melhor faixa do disco. Um amor canalha, quem nunca?

A letra de “Zoraide” (Roger Rocha Moreira) é uma ode a independência amorosa, a liberdade de poder ser solteiro. E feliz: “essa história de uma só, Zoraide tenha dó, eu quero mais é variar. Fica com esse nhém-nhém-nhém na minha orelha, chateia”.  Mafram do Maracanã arrasa na cuíca. Por meio da voz, Karla brinca com a mensagem da letra. E isso é raro de se encontrar nas nossas cantoras atuais.

“Pra ser só minha mulher” (Ronnie Von e Tony Osanah) tem o verso mais belo e poético desse disco: “Mas, me devolve a vida escondida em quartos que eu não quis dormir”. Letra, arranjo e voz remetem aos casais que se amam e que frequentam motéis. E isso não é um demérito. É a trilha-sonora perfeita para uma noite de sexo com o seu parceiro(a). O grande charme dessa canção são as pitadas sexuais do arranjo e o romantismo da letra. Conclusão: mais cantoras deveriam resgatar as composições do príncipe Ronnie Von.

A penúltima faixa é “Baby” (Caetano Veloso). Antes de qualquer coisa, vamos esclarecer algo: nada de cair no clichê que consiste em dizer que certas canções têm regravações definitivas. Definitivas para quem? Nesse caso aqui, refiro-me a da Gal Costa. Na da Karla, a ambiência é light, com programação midi de Gabriel Rocca (destaque merecido), sendo que ela não cedeu à tentação de (tentar) plagiar  outras regravações. Versão pessoal  e gostosa. Levemente diferente. E pronto.

“Eu sou melhor que você” (Maurício Pacheco) foi regravada pela cantora e compositora Ana Carolina no disco “Dois Quartos” e no DVD subsequente, “Multishow Ao Vivo - 2 Quartos” (num medley com “Fever”). Reparem quando ela canta assim: “todo homem tem voz grossa e tem pau grande e é maior do que o meu, do que o seu, do que o de todos nós”. E sem um pingo de vulgaridade. Incrível. A letra é contundente e critica de forma irônica a farsa de quem se esforça para manter as aparências: “todo mundo ganha grana só pra dizer que ela não vale nada, nada, nada. Todo mundo diz que é contra a violência e sempre dá porrada”. Última faixa apoteótica – letra, arranjo e voz a favor de um disco original de uma cantora mais original ainda.

Escute o CD aqui

1º Não me quebro a toa



2º Mulher que não dá samba



3º Já é



4º Ela me descartou



5º New love



6º Mamãe coragem



7º Volta comigo



8º Click no meu link



9º Minha



10º Amor canalha



11º Zoraide



12º Baby



13º Eu sou melhor que você



14º Eu sou melhor que você



 

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