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Gerli

De frente com ela: mais do que uma cantora, uma artesã da música popular brasileira. A música foi e é presença constante na vida de Gerli. Quando criança, já gostava de escutar música de gente grande. O próprio pai, que tocava violão, a ensinou músicas da Dalva de Oliveira. O que ela e Adriana Calcanhoto têm em comum? Gerli mesma responde: "uma vez, vi uma entrevista da Adriana (Calcanhoto) dizendo que quando ela era criança, gostava de escutar músicas de adulto. Aí eu vi que não era só eu”.

Na adolescência, gostava de escutar Cely Campelo. Já cantou em festivais universitários. Cresceu ouvindo coral de igreja presbiteriana. Uma de suas principais influências é o grande Tito Madi. Afirma que aprendeu com ele o jeito de cantar com emoção. Ouvindo-a cantar, percebe-se que ela não está falando mais do que a verdade.

Ouvir a voz da Gerli nos faz ter saudades de uma época onde a música era tratada com mais respeito. Ela canta com o mesmo cuidado e dedicação que uma costureira faz vestidos encomendados. Dá voz a 

composições em que o único compromisso é com quem sabe apreciar, de verdade, música. Canta repertórios que combinem com ela. No canto dela, não existe espaço para hits em potenciais encomendados unicamente para embalar personagens bobinhos de novela.



Na entrevista a seguir, ela fala com franqueza sobre jabá em TV e rádio; relembra a época onde era contratada na mesma gravadora do Roberto Carlos; conta como surgiu a ideia de fazer um disco cantando apenas composições do Paulinho Tapajós e, por fim, vasculha a memória e revela momentos marcantes de uma voz que traz na garganta o que viveu. Ela também me deu duas palinhas por telefone, mas essas ficam só no meu coração.

Tenho uma opinião que o brasileiro tem memória curta. Por exemplo: compositores do nível do Paulinho Tapajós são desconhecidos por muita gente. O que te levou a fazer um disco só com composições dele?

Na verdade, a gente (ela e seu parceiro de vida e trabalho, Haroldo Goldfarb) gosta de muitos compositores. Eu já cantava antes de vir ao Rio nos anos 70, 77 e 79 músicas do Paulinho Tapajós, como por exemplo: “Cantiga por Luciana” e “Sapato Velho”, que eu aprendi através de um LP do Quarteto em Cy. Ninguém ouvia em rádio, eu que copiei do LP. Eu cantava lá por ter um trabalho vocal com meus irmãos. Vindo para o Rio morar com meus pais e gravar pela CBS (gravadora), eu continuei atenta a grandes compositores. Resumindo: já estando casada com o Haroldo, ele conheceu o Paulinho Tapajós através de Billy Blanco. Se apresentaram em alguns lugares e um dia eu fui fazer um show meu em que eu já havia colocado “Cantiga por Luciana” e “Sapato Velho”. Convidamos então o Paulinho, já amigo da gente, para participar. Ele cantou comigo, foi virando então um convívio ainda mais profundo quando então em 2000 a gravadora Dabliú de São Paulo (dos diretores Costa Neto e Tatiana Librelato), me convidou por ter me descoberto pela internet. Olha só essa internet, devemos agradecer. Uma cantora que me conhecia há tempos, e que estava trabalhando nessa gravadora, me achou através de umas coisas que eu fiz vocal para Lobão e outros artistas. Me achou e falou: “Gerli, eu estou nessa gravadora e sou tua fã e gostaria muito de poder apresentá-la”. Era uma gravadora pequena, cult, até melhor, então nós preparamos um trabalho. Eles (da gravadora) gostaram muito. Pensei: “e agora, como fazer um CD bem pensado e harmonioso”?





























Por ser uma gravadora pequena, cult, tu achas que conseguirias fazer um disco desses numa, digamos assim, major?


Olha, cê sabe que não dá para saber? Ela (a gravadora) nos lançou de uma maneira muito especial, de uma maneira, como diz, cult, ou seja, sem aquele poder de uma grande pra nos levar a todas as rádios. As rádios cobram, TV’s cobram, você sabe disso. Mas vão nos apresentar pro Japão (na época do lançamento do disco "O Lirismo de Paulinho Tapajós") onde eles tem uma abertura. Eles gostaram e já assinamos contrato na época. Fizemos duas faixas a mais que eles pedem, então, pra poder ficar no Japão. Em todos os sites do Japão foi vendido. Uma coisa que aparece rápido, mas não tem esse "boom" que uma grande gravadora oferece, uma grande mídia.

Mas tem mais liberdade artística.





























Exato. Temos mais liberdade. Então, o que aconteceu, esse disco volta e meia nos dá alegrias. Ele ganhou prêmio de melhor CD. Na hora de escolher um repertório harmonioso eu já tinha muita experiência em gravar CDs das pessoas e ouvia que os produtores diziam assim: “isso dá um saco de gatos e mais aquilo”. Eu fui prestando atenção. Eu falei: “olha, é importante fazer uma coisa muito harmoniosa”. E aí, de tanto cantar com ele e depois fazer shows com ele (com o Paulinho Tapajós), resolvemos aprender músicas novas. Ele não parava de compor até há pouco tempo atrás, como o Cláudio Nucci, que já havia composto muito com o Edmundo Souto, que compunha com vários. Um dia eu tive um insight e falei pera lá: “por que não só músicas dele com o aval dele e com a colaboração dele até em dar algumas novas”? Foi aí que surgiu a ideia de fazer só com músicas dele. Eu botei o nome de “O lirismo de Paulinho Tapajós” por qual motivo? Ele não faz só músicas suaves, ele faz sambas. Tem muitos sambas, coisas mais animadas, eu pensei. O meu estilo e o meu jeito de cantar, que muitos dizem que até parece uma menina cantando...

Dá a impressão de que é uma mocinha cantando. (risos).

Eu vou escolher o que eu gosto de cantar, que eu aprendi com um produtor chamado Adelzon Alves, que foi da minha região, lá do Paraná, e que é um grande produtor, grande descobridor de sambistas. E outras pessoas mais. Ele me deu a dica. Ele falou: “Gerli, nunca queime o filme e seja sempre verdadeira, cante só aquilo que você acha que combine com você”.

Se toda cantora fizesse isso seria tão bom...

 

Não é? Então eu falei: “vou cantar o que eu gosto. Se eu fizer bem feito, e gostar, muita gente pode gostar”. Ninguém é obrigado a gostar de tudo. Mas o gostar da coisa bem feita, você gostando e acreditando, você poderá atingir os corações. Creio que é o que está acontecendo com esse disco. Conversamos com ele (Paulinho Tapajós), ele ficou contente, me deu o aval que você já viu dentro do disco. Participou de uma faixa. Então, o que aconteceu, além da gente pesquisar as que eu não sabia que ele tinha, ele nos deus algumas inéditas. A primeira foi a faixa “Escrava”, a música “Sol e chuva” do Cartola...

Já ia te falar: para mim essa é a melhor do disco.

Teve um locutor que falou isso também. Ele até chorou. Ronaldo Rosas.

A letra é um negócio que te deixa arrepiado. Você cantando e o Haroldo no piano e cordas...

Nós pensamos assim. Esse tipo de música não pode entrar orquestração grande. Ela é só mesmo ela. É mais clássica, ficou gostoso assim não é? Fico contente, viu? Por incrível que pareça, é uma melodia do Cartola que o Paulinho botou letra. Ele fazia melodia e letra, o Cartola era muito bom, mas ele mandou só gravado (a faixa “Sol e Chuva”) numa fita a melodia. A dona Zica (viúva do Cartola) deu pro Paulinho um prelúdio. Aí que ele pôs a letra.

É uma honra, é o maior prazer do mundo. Eu me prometi que vou fazer isso até morrer. Divulgar as grandes vozes femininas brasileiras.

É muito importante. Tem gente que compõe e canta muito bem, mas que não tem oportunidade. Aí o que aconteceu: depois que eu conheci o Haroldo e nos casamos, eu acho que...

 

Foi em 1996 não foi?

96, em janeiro. É, a gente se conheceu dois anos antes e fomos nos casar oficialmente, mas já começamos a namorar assim que a gente se conheceu. Nos conhecemos num show trabalhando, eu vocal, ele piano. Muito bem, assim de outro cantor. O que aconteceu. Eu quis fazer assim: Gerli e Haroldo (o disco). Eu acho que essa vida, se você não der força um para o outro... Quando um dá a mão, a gente consegue subir até uma montanha.

A união faz a força.


E ele também tem esse jeito. Olha, então acabou virando isso. Não sei se isso facilita. Parece dupla, mas não é.

Olhando a capa do disco dá a entender que os dois estão cantando.

Poisé, mas sempre quando dá uma entrevista a gente pode esclarecer. Quando vão ouvir a música a gente vê que ele é o arranjador e executor. Então, eu até ia te dizer: por isso que o meu nome antes era Gerli Araújo artísticamente, mas eu não havia tido alguma projeção quando começamos. Tenho muito registro como Gerli Araújo. Falei: “fica só Gerli. Se alguém chamar de Goldfarb, assim no ar, eu não tenho problema”. Como meu nome não é muito conhecido, não é um nome comum, se ficar só Gerli também não fica mal.



Gerli, em 1979, a convite do produtor musical Adelzon Alves, você esteve no Rio onde gravou um compacto simples com as músicas “É só querer” e “A chuva e eu”. Como foi essa experiência? Quais são as tuas recordações dessa época?

Eu morava ainda em Londrina. Vim apenas para gravar pela CBS. Quando eu terminei a gravação, o diretor artístico saiu. Acho que isso atrapalhou um pouco uma divulgação maior. A intenção era que depois desse compacto eu tivesse um LP. O produtor Adelzon Alves estava sempre comigo.

É como se fosse um mentor teu, não é?


Mentor, para sempre. Agradeço a ele no disco sem ele ter participado desse meu CD. Eu agradeço, pois ele sempre foi um mentor, você falou a palavra certa. É um agradecimento eterno pra ele. Amigo mesmo.

É aquele tipo de pessoa que a gente encontra uma vez na vida, não achas?

Exato. Então, o que aconteceu: me chamou, mostrou minhas músicas. Ele chegava e abria portas. Gravei, tocou muito na rádio Globo, tocou muito lá no Paraná. Mas depois a gravadora não foi dando tanta atenção, não dava atenção para os novatos. Era a gravadora do Roberto Carlos, daí que eu fiquei sabendo que existia essa política na época.

Desconhecia que acontecia esse tipo de coisa.

Não era maldade não. Era alguma coisa de pessoas que trabalham principalmente com relação ao Paraná. Eu tava lá. O rapaz teve a coragem de dizer que lá no Paraná eles recebiam todo o material, mas que, como eles vendiam do Roberto Carlos, não havia necessidade de se desgastar com novatos. Isso eu dei uma entrevista num jornal de Londrina e continuo dizendo. Foi o que eu ouvi da voz da pessoa lá de Curitiba. Então aquilo foi um jato de água fria, fiquei sozinha, depois eu voltei pra cá (pro Rio) e eu percebi que eu ia ter que ter outra continuação. Foi aí que o disco teve uma vida não tão longa embora na época tenha tocado muito.



Guardas boas recordações...



 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


Muito boas. Eu fiquei muito feliz. A gravação tinha umas orquestrações. Naquele tempo gravava-se num estúdio, botava-se toda a orquestra. Foi com pessoas de primeira linha.

O artista era muito mais artista. Na época não existiam tantos “artifícios” para consertar a voz. Então tinha que cantar ou cantar.

Era tudo ali. Aquela orquestra acabava de gravar, você botava a voz e ia em frente. A gente olha assim, era tão bom. Só eram convidados para gravar quem realmente cantava. Hoje em dia, é mais fácil de fazer um CD em casa.

Conheço gente que diz que qualquer um pode cantar qualquer coisa.

Além do mais tem essa coisa de afinar, mas tudo bem. Não vou falar de ninguém, a vida era assim mesmo.

Em 1986, você participou do coro feminino de "Spartacus", primeiro espetáculo apresentado pelo balé Bolshoi no Brasil, ao lado da orquestra do Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Como é que foi essa participação?

Foi emocionante. De repente, como o coro do Municipal estava ocupado com um trabalho de uma ópera, eles não puderam se deslocar para ensaiar com o balé “Spartacus”. Havia um momento em que o coro entrava junto, então chamaram o pessoal de gravação e nesse meio eu fui chamada. Esse pessoal, que tinha experiência de gravação para fazer um ensaio mais rápido. Me chamaram, foram poucas pessoas. Nem me lembro se eu coloquei aí quantas pessoas. Não sei se foram 16, só mulheres. Eu fiquei emocionada de ter sido chamada, e fomos. O maestro era lógico, um russo que não falava nada de português. No primeiro ensaio a gente já chorou de emoção quando entrou tudo: a orquestra, a gente cantando...



Aquela coisa linda, toda montada...


Depois, no dia, a gente ficava lá embaixo, no fosso do Teatro Municipal, cantando ao vivo na hora do balé. Pra mim, foi uma grande emoção. Todos nós choramos, as cantoras.





Eu já tô aqui emocionado só de estares falando, imagina você que viveu isso...



E o pior é que depois eu procurei gravações. Foi gravado pela própria editora Globo. Foi filmada, a gente na época nem dá bola. Agora eu procuro saber. Ainda vou achar essa gravação. Se eu vir e lembrar da música... A gente esquece. Realmente a gente vive essas emoções. Eu posso te dizer: a gente agradece a Deus por cada momento de paraíso que ele nos concede, então eu acho que isso é usar o dom, poder viver isso. Por isso que a gente tem que usar.




Em 1980, você mudou-se para o Rio de Janeiro, onde passastes a trabalhar tanto na área publicitária, gravando jingles comerciais e de campanhas políticas, como em shows ou gravações, com diversos artistas como Beth Carvalho, passando pelo Carlos Lyra, encostando ali numa Ângela Maria, Luiz Gonzaga, Paulo Diniz, Tim Maia, Lobão e Xuxa, dentre outros. Para mim, o nome mais curioso de artistas dessa época é a Xuxa, o que foi que você fez com ela?



Essa experiência, com esses cantores, era apenas no estúdio de gravação. Eles nem apareciam muitas vezes. A não ser Beth Carvalho, que aparecia, Gonzagão, esse pessoal. A Xuxa nem aparecia no estúdio. Ela era produzida, super dirigida. Com o Carlos Lyra a gente se viu ao vivo, com ele no palco. Paulo Diniz também. Vários shows eu fiz com esses dois, uma honra. Foi lindo, agora esses outros não, era apenas aquele vocal. Agora a Xuxa foi o seguinte: eu fazia parte de um grupo junto com os Golden Boys. Chamava-se grupo “que vai afinar o coro das crianças”. Existe muito isso. Então a gente cantava todas aquelas músicas da Xuxa e depois que a gente gravava bonitinho, eles botavam outro dia o coro infantil. Aí a nossa voz ficava como se não ouvindo naquela hora da mixagem. A voz adulta não era mais para as crianças cantarem junto e afinarem. Tudo muito bom. Foi uma experiência deliciosa



Corrija-me se eu estiver enganado: nessa época os artistas citados já eram consagrados ou não?

Já muito consagrados. A Beth inclusive estava lá, me deu autógrafo, a gente ficou super feliz. Cantamos. Então, é muito bom. Cada um no seu estilo tem um peso de uma vivência.

Experiências como essa acrescentam muito ao artista.

Acrescenta. A gente vai aprendendo a trabalhar com responsabilidade, a ver o que cada um passa, que todo mundo é humano e que na hora do palco, aquilo ali, a adrenalina do bem vem e pode estar até cansado que tudo acontece bem.

No palco é a hora de lavar a alma.

Com certeza.

Em 1997 você estreou no Vinícius Piano Bar (RJ), o show "Mel & Espinhos", ao lado do Haroldo Goldfarb. Como foi esse show?























 

Muito gostoso. Foi nesse show que o Paulinho participava. A gente chamava ele pra subir ao palco. Era um momento muito bom, que ele cantava “Luciana”, depois ele subia e cantava “Sapato velho” comigo e às vezes a gente cantava “Andança”, que não pode faltar. Todo mundo canta junto.

Sobre o disco: tem músicas que realmente são muito importantes na minha memória afetiva. Puxam várias lembranças. Um exemplo delas é a gravação que vocês fizeram de “Sapato Velho”. Como é que foi gravar essa música?

Como eu já cantava sozinha e eu lancei essa música em 77, quer dizer, eu lancei cantando em Londrina num show no Teatro Universitário. Toda a meninada lá, então foi muito interessante. Ninguém sabia que existia essa música, todo mundo adorou. Sempre eu cantava com o Haroldo. Quando eu lancei no show que o Paulinho também cantou, todo mundo pedia sempre. Gravar foi muito gostoso. Eu já cantava, tava acostumada a cantar

Você já conhecia, fazia parte do teu repertório.


Já fazia. Não precisei ler. Muitas que ele me deu eu precisei ler, mas aí essa não, eu cantava me soltando e o Haroldo já havia feito o arranjo dele. Fez um arranjo especial pro disco, foi um trabalho minucioso. Arranjo pra cada melodia. Dava sugestões e ele é muito bom nisso, graças a Deus.

Ele tem jeito de ser bem cricri (no bom sentido) com os arranjos que faz...

Com certeza. Eu tô aqui no quarto e ele tá na sala com uma cantora de ópera, preparando-a para uma peça musical sobre a Barbra Streisand. Muito lindo, aí já é um trabalho dele. Ele é arranjador, vai executar e vai executar no palco com ela aquele filme "Yentl" que a Barbra Streisand fez. Ela (a cantora de ópera) é do Teatro Municipal. Ela não tem CD, é específica de ópera, mas ela também trabalhou a voz nessa coisa meio popular, como a Barbra Streisand. Tá um trabalho muito lindo e o Haroldo fez todos os arranjos.


 

Gerli, no disco tem uma canção chamada “Coisas do coração”, gosto muito de uma parte que diz assim: “deixe que a chuva molhe teu corpo, que é pra eu não te queimar, nesse desejo, coisa de louco, meu jeito de te amar”. É uma das letras mais inspiradas do Paulinho Tapajós, que só escreve coisa boa. Como essa composição entrou no disco?



Olha, essa entrou já foi por orientação dele. Nós pedimos para ele dar várias para a gente escolher, nós escolhemos. Foi indicação, ele apresentou pra gente, eu não conhecia. Parece que passou numa novela, ela é conhecida. Eu não conhecia, até por não ser do Rio, tinha muita coisa que não passava em Londrina, então, por isso que convidei ele pra cantar junto. A gente gostou muito de todas que ele apresentou e a gente escolheu, achou que combinava para entrar nessa linha mais melódica, até mesmo no “Irmãos Coragem”, que ela é toda forte na apresentação da novela. Eu já cantava com ele nos shows dele que eu participava. Eu ia fazer shows com ele, dividia o palco com ele. Isso foi me dando um gosto. Essa música tem uma letra forte de Brasil, de povo. Vamos fazer um arranjo dentro da linha do disco. E deu pra entrar, tem gente que fala assim: “não esperava que “Irmãos Coragem” vocês tivessem feito na mesma linha do disco”.



Não deixa de ser uma ousadia do jeito que vocês fizeram.


Era essa a intenção.



Isso que eu acho legal. Vocês pegaram a música e fizeram do jeito de vocês. Isso é que é artista de verdade.


A gente veste a camisa, se envolve.

Eu estava pesquisando sobre vocês na internet, redes sociais, e percebi que mesmo sem música em novela ou tocando na rádio, vocês tem um público que marca presença nos shows, que acompanha mesmo a carreira de vocês. Como a gente poderia explicar isso?

Olha, isso acontece com muitos artistas. Os artistas de um modo geral: cantores e músicos sempre fazem um show aqui e ali para sobreviver e por gostar. Nós nos apresentamos no lugar onde chamam a gente. Depois do disco, passou a ter um pouquinho mais de cuidado pra não ficar expondo demais, mas ao mesmo tempo não deixar de nos apresentar. A gente trabalha também. Em coquetéis, festas de 80 anos lindas pra pagar as contas. É um trabalho que agrada muito, feito com muito carinho, com muita atenção. Um trabalho fino e com isso você vai adquirindo também um público. Fazíamos shows como fazíamos no “Mel & Espinhos”, nós fizemos muitas vezes, então o público foi ficando fiel, começou a mandar mensagens pra avisar quando houver mais shows, tivemos então uma mala direta grande.

Como se fosse uma parceria do público com vocês.

Isso. “Quando vocês vão fazer o próximo show”? A gente avisa, tem que avisar, nós não vivemos na mídia grande, que paga. A gente tem que avisar, além de alguma mídia que mostre num jornal, uma nota pequeninha. Tem show que não sai nada, então você tem que ter esse público. Em rádio tocou na época que lançou o disco e entrevistas também. Agora colocar na grade? Não conseguimos, tinha que pagar.

Será que não toca na rádio pelo fato de “os grandes cabeças” acharem que é um disco muito sofisticado, cult?

Não, não é só isso não. Infelizmente ou felizmente, é pagamento mesmo. A coisa mudou totalmente, então, por exemplo, a Rádio Nacional tocava. Todas as rádios pertencem a grandes conglomerados. O diretor artístico agora é diretor comercial, essa é a verdade. Gente, não tô mentindo, a Rádio Globo nos deu muitas entrevistas, teve gente que ouviu e nos ligou. Quando foi pra botar no programa eles falavam que não era o perfil da rádio, que a rádio era pop rock. Se pagar bem entra. As gravadoras grandes tem que pagar para tocar as músicas, infelizmente isso é uma triste realidade. Pode ser que alguma programação diga assim: “há, não é o perfil”, mas tem o programa da noite, que é mais calmo. Podia botar, mas não bota.

Eu acredito que se uma rádio souber dosar sua programação, ela pode atender a todos os gostos. Satisfaz-se a galera do sertanejo, e quem curte uma música mais elaborada, rica e trabalhada?

Vilhena, mas nós pensamos assim. Nós temos esse gosto, mas o comércio que existe dentro dessas grandes empresas se transformou numa tal maneira em apenas comércio. Por isso que algumas rádios põem, as que não dependem de pagamento. Como é que elas põem?

Quando eu era pequena eu ouvia a Rádio Bandeirantes em São Paulo, mas quando eu era menina já faz muito tempo (risos). Não existia jabá pra pagar. Era lindo quando eles lançavam uma música.

Algum plano de disco novo?

Olha, queremos muito fazer um com músicas do Tito Madi. Gosto das músicas dele. São bem feitas. É um sonho e queremos de verdade fazer um CD sobre ele. Eu não vou querer dizer que alguém falou bem de mim, parece que tô me gabando, mas ganhamos segurança pra continuar. Uma vez ele me disse assim (Tito Madi): “onde você estava que eu nunca te ouvi e estou maravilhado”. Antes disso, a gente ficou amigo do Tito. Foi uma coisa. Quando eu era menina eu via ele e achava que eu cantava com a emoção dele, olha que coisa gostosa. Já fiz apresentações com ele. Quantas vezes a gente vai fazer um evento em que as pessoas perguntam: gente, que repertório é esse? As pessoas gostam.

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