top of page

Marcia Castro - De Pés no Chão

assim como a letra sugere, descreve um casal louco, daqueles que se comem com o olhar. Tudo num arranjo que leva a voz da cantora ao pé do ouvido de quem a escuta, como se fosse um sussurro quente e gostoso.​

“Preta pretinha” (Moraes Moreira e Luiz Galvão), a terceira faixa, é do grupo Novos Baianos e é conhecida por quem é bom aluno na matéria música brasileira. Após cantá-la no programa Som Brasil, da TV Globo, o sucesso foi imediato. Só que o atrativo da faixa é a vitalidade que a voz da Marcia Castro imprime na letra.

“Logradouro” (Kléber Albuquerque e Rafael Altério), a faixa seguinte narra uma situação onde o protagonista precisa encontrar a felicidade. Independente do lugar e do espaço, o anseio pelo estado de felicidade precisa ser encontrado. Terminando por dar um susto (bem vindo) na solidão.

Nunca pensei que o fantástico mundo de Tom Zé pudesse abrigar, em suas entranhas, uma vaga para Marcia. Em “Você gosta”, composição dele e Hermes Aquino, ela provoca, de maneira quase indecente (mas necessária) logo no refrão: “Você gosta de me arranhar? Gosta? Então me arranhe toda hora”. Nessa hora, um verdadeiro batalhão de cantoras brasileiras fazem os gemidos que todo homem gostaria de ouvir na cama. Senhoras e senhores: Alzira E, Andréia Dias, Elaine Guimarães, Jurema Paes e Marcela Bellas, as moças dos gemidos.

A faixa seis, “Vergonha” (luciano Salvador Bahia), já conhecia do DVD Sexo MPB. É uma das mais bem construídas, contando uma história com início, meio e fim. Narra uma situação bem atual, que todo mundo conhece ou pelo menos conhece alguém que já tenha presenciado. A letra descreve uma mulher que, como muitas do Brasil e do mundo, são deixadas no lar enquanto o marido sai para beber. As características e atitudes desse marido, infelizmente, padrão, são as mesmas de sempre: beber muito, falar alto, cantar refrãos sem qualidade e revelar a idade da mulher, dentre outras coisas. Só que mesmo assim, essa mulher não deixa de sonhar. Uma mulher que tem esperança. Como muitas por aí. Essa música não deixa de ser uma crítica social. Faz pensar e muito nas milhares de mulheres que ficam em casa esquentando a comida e a barriga na frente do fogão, enquanto o homem “amado” bebe o dinheiro do leite das crianças no bar mais próximo.

“29 beijos” é a faixa sete. Um blues gostoso composto por Moraes Moreira e Luiz Galvão. É do tipo de música que dá vontade de reunir um grupo de amigos, tomar cerveja e voltar pra casa bêbado e feliz e cantando muito.

A faixa seguinte é um gostoso roquinho (e desconhecido) composto por Jorge Mautner e Gilberto Gil. O nome é “Crazy pop-rock”. O jeito com que Marcia Castro canta essa música faz lembrar cantoras de rock americanas. É aquele tipo de música em que no show as pessoas batem cabelo enlouquecidamente. Dá uma energia boa. Vontade de pular.

O momento mais denso do disco chega com “Catedral do inferno”, um samba raro do Cartola e Hermínio Bello de Carvalho. A letra é capaz de arrepiar até a carola religiosa e fervorosa mais presente nas missas de domingo. Ela diz: “Deus me inventou pra desespero do diabo, eu fiz do samba catedral do inferno, louca, muito louca, endoidecida, vou fazendo desta vida, tudo aquilo que bem quero”. É aquele tipo de música que devemos ouvir bem longe da faca que usamos para cortar o pão.

A penúltima faixa, “Nó molhado” (Monsueto Menezes e José Batista), descreve os sentimentos exagerados, loucos e imprevisíveis que um casal apaixonado vive.  Marcia canta que nosso amor não entra em greve, nosso amor é vitalício, não nasceu pra ser finado. Então tá, é isso mesmo.

Um disco que se encerra com Gonzaguinha merece respeito. “Pois é, seu Zé” narra um personagem que sabe muito bem o que é chegar ao fundo do poço. E o pior não é a descida, e sim saber que tem gente que ainda te dá uma pá pra cavar mais. E mesmo assim a plateia ainda aplaude e pede bis, mas a plateia só deseja ser feliz. Perto do fim, Marcia canta: “E já me chamam por aí de verdadeiro artista...”. Realmente, Márcia Castro é uma verdadeira artista. Mostra que ao ir na direção contrária de muitas cantoras que insistem em ser compositoras também, a definição do seu canto justifica-se em cantar e abrilhantar as composições alheias.

Deixe o seu comentário:

Rita Lee, há muitos anos atrás, afirmou que lacinhos cor –de- rosa ficam bem num sapatão. Esse verso faz parte de uma música pouco conhecida dela, chamada “De pés no chão”, que também nomeia o último disco da baiana Marcia Castro. Ao final, ela canta: “Eu nasci descalça, pra que tanta pergunta”. E assim somos oficialmente apresentados ao segundo (e esperado) novo disco da Marcia.

A segunda faixa foi composta pelo então casal, na época, o cantor Otto e a atriz Alessandra Negrini. Chama-se “História de fogo”.  Na letra eles dizem que esse amor me derreteu, ajoelha-te, esquece, me chupa e agradece. Seria até vulgar se esses versos fossem cantados por uma mulher gostosona que praticamente mora numa academia e adora usar bermudas curtas. Mas o canto de Marcia Castro, 

bottom of page