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Graziela Medori - A Hora é Essa

Graziela Medori não tinha como fugir da música. Da maternidade, toda a voz e carreira da exímia Claudya; da paternidade, o grande instrumentista e compositor afiado Chico Medori. Logo, “A hora é essa”, seu debute fonográfico, já nasceu com fome de ouvintes. Lançado aos 25 anos de vida de Graziela, esse álbum reúne um mosaico de canções que nada tem em comum umas com as outras. Mas, que na síntese resultante do gosto apurado dessa cantora, ganham coesão e firmeza nas interpretações.

Claudya estreou na música em 1967 com um LP homônimo. Nesse primeiro lançamento, já podíamos observar as características que definem o seu trabalho até hoje: segurança incomum para uma cantora novata (ela tinha apenas 17 anos), feeling para cantar o que sua voz necessitava e o mais importante de tudo: uma grande voz. Graziela, “filha de peixe”, segue o mesmo caminho: mesmo sendo o seu primeiro disco, exibe segurança e fôlego invejáveis, canta o que quer e como quer, e nos presenteia com uma voz que parece já ter carimbado vários discos.

“A hora é essa” veio numa situação e momento oportuno: nada como conhecer uma jovem mulher que canta de acordo com o que é, interpretando e deixando sua marca em canções de autores alheios. Cercada pela família, usando canções díspares, vindas de mundos distantes e de compositores mais distantes ainda, essa moça sintetiza sua aptidão musical por meio de nossa música tupiniquim, colocando em um disco, o que a sua voz é, pode ser e ainda vai ser e nos mostrar.

“Brazuca nervosa” (Chico Medori) já começa com tudo: arranjos e letra autoexplicativos, como quando ela canta energicamente a frase “Brazuca nervosa vem aí”. Uma mudança de andamento faz essa faixa ganhar ares de samba. Notem como ela canta sem floreios, indo direto ao que interessa. O coro formado por ela e o pai, Chico Medori, instrumentista e compositor dessa canção, torna tudo mais natural e familiar. O final delicioso parece rock.

“Eu não sou causa, sou consequência” (Marcos e Paulo Sérgio Valle) inicia-se contagiante e enérgica. Desacelera no refrão e (também) lembra um pouco samba. A limpidez da dicção salta aos ouvidos. O pai se sai bem na participação vocal.

“A hora é essa” (Robertos Carlos e Erasmo Carlos) é uma canção também regravada pela grande cantora Célia. Na versão de Graziela, a presença do trombone e trompete dão um charme a mais. A potência vocal fica mais explicita nessa faixa. Canta com naturalidade uma música que precisa de uma cantora firme e consciente da responsabilidade de cantar com maestria um clássico do repertório de Roberto e Erasmo Carlos, dupla profícua e fundamental na música brasileira. Se eles cederam essa canção para ela, quem vai ser louco de contrariá-los?

“Dengo” (Chico Medori) lembra muito o estilo de cantar da mãe dela. Trata-se de uma canção que te contagia, que nos deixa felizes... Principalmente quando ela canta o seguinte verso: “cuidado, dengo dengo, beijo”. A impressão que fica é que ela canta com um sorriso nos lábios.  O trombone bem colocado torna-a mais interessante ainda. E poderia muito bem estar embalando um casal em trilha de novela.

“Fez chover” (Rômulo Fróes) conta com a luxuosa participação especial no acordeom do Dominguinhos. Tem algo de xote e pitadas nordestinas. Pra dançar coladinho, roçando o corpo no seu par. Graziela canta-a de maneira leve, reforçando o sentimento de calma. Com o arranjo que ganhou nesse disco poderia muito bem figurar no repertório da Elba Ramalho.

“Pássaro encantado” (Chico Medori) tem, de longe, uma das letras mais incríveis compostas nos últimos tempos. Recheada de imagens e também de crítica social num arranjo muito bem elaborado, que assim como a faixa anterior, “pega” elementos da sonoridade nordestina. Vale ressaltar o show que Iuri Salvagnini dá no teclado. O coro em família (Graziela, Claudya e Chico Medori) reforça a naturalidade dessa canção, como se o ouvinte tivesse participado da gravação. Por fim, Oswaldinho faz participação especial no acordeom. É a melhor faixa desse disco.

Em “O amor morreu” (Dominguinhos e Anastácia) Graziela canta de maneira suave, porém, a voz mantém a força e a personalidade. O arranjo evoca uma atmosfera melancólica. A interpretação branda, o clima ameno e novamente a participação de Dominguinhos no acordeom favorecem um momento delicado que se destaca nesse álbum.

“Cigana” (Chico Medori) é a faixa em que no show todo mundo canta junto. O coro formado pela Graziela, o pai Chico e Armênio Amaral funciona, resultando numa canção para agitar, que é para os ouvintes se jogarem mesmo.

“Chorando no campo” (Lobão e Bernardo Vilhena) logo de primeira deixa a seguinte impressão: quando ela canta essa canção, parece que aprecia cada palavra, dando através da interpretação, os seus devidos valores. É uma ótima canção para uma noite de amor que tem como testemunhas as estrelas no céu. Parece tão íntima durante a sua audição, que nos faz supor que Graziela canta-a de frente com o ouvinte: num clima suave, em doses homeopáticas.

“Ou bola ou bulica” (João Bosco e Aldir Blanc) é uma música ritmicamente difícil, mas que ela encara numa boa, esbanjando firmeza. O trompete de Marcos Braga deve ter corroborado para isso. Parece que é cantada por uma veterana, devido à segurança. Mesmo com as divisões complicadas.

“Nosso Baile” (Edu Krieger) conta com um verso ótimo: “felicidade é um direito que nos resta”. A combinação de letra esperta, refrão que “pega” na hora e os coros colocados nas horas certas fazem dessa faixa uma delícia.

“Ta na fera” (Chico Medori) tem uma letra lúdica e divertida com as citações de frutas diversas, que também mostram e acentuam os clichês vinculados ao Brasil. Um encerramento que não deixa a peteca cair. Como não se identificar com uma letra tão simples e inteligente que fala do Brasil como ele é de verdade? O arranjo muito bem elaborado, o frescor do timbre dela e a banda afiada acabaram fazendo uma última faixa que faz o ouvinte querer logo, logo um segundo disco. E rápido.



Para ler a coluna "Faixa a Faixa", com Graziela Medori, clique aqui

Escute o CD aqui:

1º Brazuca nervosa



2º Eu não sou causa, sou consequência



3º A hora é essa



4º Dengo



5º Fez chover



6º Pássaro encantado



7º O amor morreu



8º Cigana



9º Chorando no campo



10º Ou bola ou bulica



11º Nosso baile



12º Ta na fera



 



 

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