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Oswaldinho e Marisa Viana - Viva Elpídio!

Prova viva que o Brasil não preza pela própria memória musical é o estranhamento e indiferença com relação ao nome de Elpídio dos Santos. Nascido a 19 de janeiro de 1909 em São Luís do Paraitinga (SP), foi antes de tudo, um grande artista. Apesar de geralmente associado à cultura caipira, Elpídio, talvez até inconscientemente, acabou fazendo de sua obra um apanhado do mundo. Prova de sua pluralidade são as trilhas dos filmes de Mazzaropi, das quais foi o principal compositor.
 
Em 2009, foi comemorado o centenário de Elpídio (104, sendo mais preciso), falecido devido à meningite em 1970, então com 61 anos. Cientes da necessidade de perpetuar o trabalho de Elpídio – resgatando um filão riquíssimo do cancioneiro tupiniquim – Marisa Viana, cantora, compositora e percussionista paulista, se uniu ao músico e intérprete de Piraju (SP) Oswaldinho Viana. Juntos, o casal (também de vida) lançou em 2009 o disco “Viva Elpídio”, formado por 16 faixas, sete delas inéditas. “O Viva Elpídio faz parte de uma pesquisa que durou oito meses indo lá na casa dos Santos em São Luís. É uma homenagem a um compositor que a gente considera que tem a nossa forma de sentir a música do interior”, complementa Marisa.
 
 
Saboreando este disco, o ouvinte se depara com letras recheadas de signos que os transportam para os interiores do Brasil: praça principal com soverteria, carolas indo à missa, crianças na rua, caboclo trabalhando sol a sol, dona de casa cuidando das crias e preparando o jantar, traços que resistem à urbanização descontrolada do mundo. Atentos, Oswaldinho e Marisa cuidaram de tudo com mãos de ferro: sozinha, Marisa fez a produção executiva, concepção musical e pesquisa. Oswaldinho ficou responsável pela direção musical e arranjos. Juntos, assinaram a produção artística. Casamento belo e harmonioso. Dos dois e Elpídio.
 
O esmero e cuidado para com a obra de Elpídio segue na estética também: o design gráfico de Marcos Paulo (Tatá) Ferreira desenha na imaginação do ouvinte o mundo particular do homenageado. Junto a ele, fotos da vida, cidade e família de Elpídio na terra natal feitas por Leandro Mamede, Tatiana Freitas e Wladimir Pieroni. Finalizando, o disco ainda contém biografia atualizada do mestre Elpídio. Num país que prefere mergulhar no mar da ignorância, iniciativas como essas merecem fogos de artifício.
 
No “Faixa a Faixa” a seguir, Marisa Viana faz mergulho fundo na obra de Elpídio, e quer companhia. Confira:
REDE DE TABOA (RANCHINHO BRASILEIRO) - ELPÍDIO DOS SANTOS- Instrumental.
 
Decidimos que a primeira faixa do CD seria um instrumental, para já de cara, deixar clara a intenção da nossa releitura: mostrar a beleza dessa melodia de origem caipira, com uma roupagem quase que erudita. Um arranjo ricamente elaborado com a viola caipira e o violão 12 cordas de Oswaldinho Viana, o cello de Marisa Silveira e o acordeom de Toninho Ferragutti, fizeram-na chegar aos nossos ouvidos como uma sinfonia.
 
Rede de Taboa foi um dos sucessos de CASCATINHA E INHANA em 1956 e mais tarde , em 1984, foi gravada também por Dercio Marques.

 

LUA NA ROÇA - ELPÍDIO DOS SANTOS / PÁDUA MUNIZ
 
As composições de Elpídio, além dos costumes, culinária, sotaque, retratam também a religiosidade do povo de São Luis do Paraitinga E ele era mesmo bastante religioso. Frequentava a Igreja Católica, as procissões, rezas e festas religiosas e deixou essa marca em suas letras. Grande parte de sua obra inclusive, é composta de músicas sacras, que infelizmente se perdeu num incêndio de uma igreja antiga.
 
“Lua na Roça” é delicada na poesia e na melodia. Ouvindo “Lua na Roça”, é impossível você não se transportar para aquela pracinha, e acompanhar as moreninhas indo para a igrejinha, de pé no chão. Aqui também Oswaldinho Viana no violão de 12 cordas e voz, cello de Marisa Silveira, contrabaixo de André Perine, flautas de Pratinha e eu na percussão de efeitos e voz.
FIGA DE GUINÉ - ELPÍDIO DOS SANTOS
 
Grande parte da obra de Elpídio é desconhecida. Há ainda músicas inéditas, muitas delas recuperadas em pedaços de papel, ou guardadas na memória de familiares.
 
Neste trabalho, tivemos o privilégio de gravar sete faixas inéditas e esta é uma delas, que originalmente era um batuque (quizumba) que adaptamos para samba caipira...
 
Adoro figa de Guiné. É delicada, brejeira, gostosa de ouvir.
 
Canto acompanhada pelo violão e contrabaixo de André Perine, o bandolim de Pratinha, o trombone de Totty Bone, e o pandeiro maravilhoso de Pimpa .
A DOR DA SAUDADE - ELPÍDIO DOS SANTOS.
 
Elpídio foi o principal compositor das músicas dos filmes de Mazzaropi, do qual era amigo.
 
No final dos anos 50, Mazzaropi fundou sua própria produtora, a PAM Filmes S/A, e convidou Elpídio para fazer as trilhas para seus filmes.
 
Ao todo, foram 25 músicas de Elpídio, em 24 filmes de Mazzaropi e muitas delas eram cantadas pelo próprio Mazzaropi.
 
“A Dor da Saudade” fez parte do filme “A Casinha Pequenina” em 1963, e era das músicas de Elpídio, a preferida de Mazzaropi!
 
Impossível não se emocionar com a participação luxuosa do acordeom de Toninho Ferragutti em “A Dor da Saudade”!
A DONA DO SALÃO - ELPÍDIO DOS SANTOS / CONDE
 
Esta música fez parte do filme Fuzileiros do Amor (1956) e foi gravada pelo Grupo Paranga em1982. É uma daquelas brejeirinhas, imperdíveis! Principalmente pelas frases incríveis do bandolim de Pratinha! Foi uma delícia fazer um duo com Oswaldinho e comigo mesma nos vocais.
CHEGADINHO CHEGADINHO - ELPÍDIO DOS SANTOS
 
Era originalmente um baião, que Dircinha Costa gravou em 1954 e que aqui adaptamos para um maxixe delicioso.
 
Destaque para o violão de sete cordas de Italo Perón, o Clarinete de Stanley Jorge e a flauta de Pratinha, que se conversam o tempo todo. Do baião, deixamos apenas meu triângulo soar...
CABOCLO DA ROÇA - ELPÍDIO DOS SANTOS
 
Esta canção é outra das sete músicas inéditas que gravamos e uma das que mais me emociona.
 
Embora mais conhecido na vertente caipira, Elpídio compunha nos mais diferentes ritmos e estilos. Sua poesia é fotográfica. Suas letras foram escritas com simplicidade e com a naturalidade de quem viveu o interior.
 
Quando ouvimos uma canção de Elpídio, nos reportamos imediatamente à cena descrita, como se estivéssemos apreciando uma foto ou pintura. É uma história em quadrinhos!
 
Caboclo na roça tem essa característica. Retrata fielmente a vida do nosso caipira, com sua poesia simples e muito forte ao mesmo tempo. Novamente pude fazer um dueto comigo mesma e ficaram muito bem casadinhas as vozes.
 
O intermeso com o acordeom de Toninho Ferragutti é um luxo, e as respostas de
bandolim de Pratinha e do contrabaixo de André Perine, ficaram divinas!
PASSEIO AO RIO – ELPÍDIO DOS SANTOS
 
Esta faixa mostra outra qualidade de Elpídio: a grande variedade de ritmos de suas composições. Compositor eclético que fez música clássica para violão e clarinete, dobrados para banda, além de música sacra, compôs também chorinhos, toadas, valsas, guarânias, xote, baião além de marchinhas...
 
“Passeio ao Rio” ou “Fui Passear”, outra das inéditas, nos surpreendeu, pois se trata de um samba, bem ao estilo carioca.
 
Destaque para o piano de Roberto Lazzarini e o pandeiro de Thais Musachi.
VOCE VAI GOSTAR - ELPÍDIO DOS SANTOS / CONDE
 
A música mais famosa de Elpídio é “Você Vai Gostar” ou “Casinha Branca”, como é mais conhecida. Quase todas as composições dele têm dois títulos, um original e outro “batizado” pela referência à letra.
Criada em 1953 e gravada pela primeira vez por José Tobias em 1954, esta música ficou conhecida em todo Brasil. Foi regravada depois por inúmeros intérpretes.
 
Segundo uma série de reportagens preparadas pelo repórter José Hamilton Ribeiro e apresentada na edição diária do Globo Rural, está entre as melhores músicas do universo caipira de todos os tempos, e foi escolhida como a música de abertura dessa série em comemoração ao aniversário de oito anos do programa.
 
Fagner e Belchior contam que “Casinha Branca”, foi a inspiração para “Velas do Mucuripe”, que diz: “calça branca de riscado / paletó de linho branco / que até o mês passado / lá no pé ainda era flor / com seu chapéu quebrado / um sorriso ingênuo e franco...”
 
“Você Vai Gostar” nunca fez parte de nenhum filme, e foi, por conta própria, o maior sucesso de Elpídio!
 
“Você Vai Gostar” está em nosso repertório há mais de 20 anos e nunca fica fora de nossas apresentações. Originalmente, foi gravada como uma valsinha, e nós adaptamos para guarânia.
 
Voz e violão 12 cordas: Oswaldinho Viana
Voz, vocais e percussão: Marisa Viana
Contrabaixo: André Perine/ Flauta: Pratinha / Bombo Leguero: Jica
 

 

SERTANEJINHA - ELPÍDIO DOS SANTOS
 
Em “Sertanejinha”, conhecida também como “Benzedô”, substituímos o original rasqueado pelo chamamé, ritmo de origem argentina, que hoje é bastante difundido no Mato Grosso e Mato Grosso do sul.
O arranjo ficou por conta do acordeom de Toninho Ferragutti, do bombo leguero de Jica, e das castanholas que herdei de minha avó materna...Um toque meio hispânico... Rrsrs.Ficou divertido.
FOGO NO RANCHO - ELPÍDIO DOS SANTOS / ANACLETO ROSAS JR.
 
Mazzaropi encomendava músicas especificamente para determinadas personagens de seus filmes. “Fogo no Rancho” foi uma delas e fez parte do filme “Jeca Tatu” em1959, que narra a tristeza do caipira que sai em retirada vendo seu rancho pegar fogo.
 
O violão de sete cordas de Italo Perón, o contrabaixo com André Perine, as Flautas de Pratinha, intuíram o clima de retirada dado por minha percussão de efeitos.
CARNAVAL EM MADRID - ELPÍDIO DOS SANTOS
 
Esta faixa é uma marchinha, típica dos carnavais de S. Luis do Paraitinga e convidamos o Grupo Paranga para uma participação muito especial.
 
Nesta nova formação, Renata Marques faz a voz, Negão dos Santos e João Gaspar os Violões.
 
Acompanhando o Grupo, Oswaldinho Viana no contrabaixo, Totty Bone no trombone, Jica no bombo e Evaldo Correa na caixa. Vocais e castanholas ficaram por minha conta.
 
Deliciosa!
BALANÇO DA REDE - ELPÍDIO DOS SANTOS
 
“Balanço da Rede” é uma cantiga de roda e chamamos as crianças Nicholas Torres - Kim Marieva Marcowith - Roberto Bernardo Rodrigues e Klauss Marcowith Cabral para cantá-la, já que originalmente foi feita para os filhos de Elpídio quando crianças.

 

FILÉ MINHÃO - ELPÍDIO DOS SANTOS.
 
Elpídio era uma pessoa muito alegre e popular na cidade. Contava anedotas e vivia rodeado dos moços e crianças. Também gostava de serestas, cantorias, e causos contados na beira de fogueiras. Era muito ligado à família e costumava reunir os amigos para saraus e brincava fazendo mágicas para a criançada...
 
Esse temperamento bem humorado está presente em várias de suas músicas.
 
“Filé Minhão”, é uma delas. Sempre que cantamos no show a plateia ri!
Italo Perón no violão de sete cordas, Pratinha na flauta e Totty Bone no trombone acompanham o tom divertido dessa marcha.
CAI SERENO - - ELPÍDIO DOS SANTOS / CONDE
 
Mais conhecida como “A Rama da Mandioquinha”, esta música está no filme “A Carrocinha”- 1955, onde Elpídio aparece fazendo uma ponta, tocando “Cai Sereno” no violão. Mais tarde, Mazzaropi gravou esta música e fez muito sucesso. No original ela foi concebida como baião, mas já anteriormente, em nossos shows, tocamos como marchinha e o resultado da adaptação foi um clima muito alegre e vibrante.
 
Voz, vocais e percussão: Marisa Viana
Vocais, violão e violão 12 cordas: Oswaldinho Viana
Contrabaixo: André Perine / Flauta: Pratinha / Bombo: Jica / Caixas: Evaldo Correa.
REDE DE TABOA - ELPÍDIO DOS SANTOS.
 
 
“Rede de Taboa” gravada em 1956 por Cascatinha e Inhana, fez grande sucesso nas rádios da época e é conhecida também como “Ranchinho Brasileiro”.
 
No início do CD mostramos apenas o instrumental desta mesma composição e aqui, para finalizá-lo, cantamos esta toada, que tem em sua letra uma de suas mais expressivas frases que reflete a sensibilidade deste grande compositor brasileiro:
 
“Porque a sua melodia é o Brasil em sinfonia bem no meio do sertão!”
Voz, viola e violão 12 cordas: Oswaldinho Viana
Vocais e percussão: Marisa Viana
Contrabaixo: André Perine / Flauta: Pratinha...
 
 

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