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FAIXA A FAIXA
ARTISTA: IZABEL PADOVANI
DISCO: MOSAICO – COMPOSITORES CONTEMPORÂNEOS



Após dez anos morando na Áustria, Izabel Padovani, cantora brasileira, volta a fixar residência no Brasil em 2005. Três anos depois, lança pelo selo independente “Gravina Música”, com apoio da Secretaria de Cultura de Campinas por meio do Ficc (Fundo de Investimentos Culturais de Campinas), “Mosaico – compositores contemporâneos”. Os arranjos ficaram por conta do baixista, arranjador e compositor Ronaldo Saggiorato, que junto 

com a própria Izabel, fez a direção musical também. Durante a audição, o ouvinte se depara com uma cantora acima da média em termos técnicos, porém, que não abusa disso em detrimento da emoção. É o que convém chamar de artista, do tipo que não brinca em serviço.


Inteligente na escolha do repertório, Izabel propõe um diálogo saudável entre duas categorias: de um lado, novos compositores, como Zé Paulo Becker, Fred Martins, Eduardo Klébis, Luís Felipe Gama, Dante Ozzetti e André Mehmari, do outro, compositores contemporâneos consagrados, como Arrigo Barnabé, José Miguel Wisnik, Guinga e Luís Tatit, dentre outros não menos ilustres. Sobre o repertório e concepção do disco, Izabel afirma: “a ideia foi gravar tanto compositores da nova geração quanto compositores contemporâneos vivos e que já fazem parte da história da música brasileira. Foi uma produção com bem pouca verba, os músicos e os compositores foram muito generosos”.


Dois fatos impregnam o “Mosaico” de Izabel com força, beleza lírica e melódica: as canções inéditas “Bote” (Luís Felipe Gama e Kiko Dinnuci) e “Primeiro choro de Lucas” (André Mehmari), e as participações especiais, firmes de Paulo Freire na viola e Rafael dos Santos ao piano. Ciente da importância de estar bem acompanhada, Izabel ressalta a importância dos colegas de labuta: “Tive o prazer de trabalhar com os músicos Anderson Alves no clarinete, Denni Pontes na percussão, Lara Ziggiatti no violoncelo, Luís Passos na guitarra e bandolim, Marcelo Valezi flauta e sax, Paulo Freire na viola, Rafael dos Santos no piano e Ronaldo Saggiorato, meu grande parceiro, um músico excepcional, no baixo, violão, programação eletrônica e nos arranjos”.


É curioso observar como esse disco resistiu ao teste do tempo até agora, sendo que vivemos na época da pasteurização desenfreada, que atinge desde pessoas, relacionamentos, animais de estimação a música, arte em geral. Vale lembrar que “Mosaico” veio ao mundo em 2008, ou seja, cinco anos se passaram. Mesmo assim, ele ainda oferece ao ouvinte (belo) passeio num mar de possibilidades sonoras pelo mundo dessa cantora que faz da própria voz um instrumento, similar ao que os músicos fazem em seu ofício.


A partir de agora, como é de praxe, saio de cena. Quem assume o comando é Izabel Padovani “em pessoa”, que relembra a primeira vez que escutou “Alto mar” (Dante Ozzetti e Luís Tatit), revela o motivo de “Capital” (Guinga e Simone Guimarães) ser uma de suas canções favoritas, conta histórias que a ajudaram a chegar nesse repertório e esmiúça nuances dos arranjos. Confira:


 

ALTO MAR (Dante Ozzetti e Luís Tatit)
Quando eu ouvi essa canção pela primeira vez, a melodia, e o tema falando sobre o mar, me levaram direto à Portugal. Eu podia ouvir as guitarras portuguesas no arranjo. E assim ao final o arranjo acabou tendo bandolim no lugar da guitarra portuguesa fazendo contrapontos que lembram o fado, o gênero acabou indo pro lado do choro, então na faixa um de Mosaico o choro acaba dialogando com o fado.


CANÇÃO DE NÃO DORMIR (Arthur Nestrovski e Eucanaã Ferraz)
A ouvi pela primeira vez em um sarau na casa do próprio compositor e logo me apaixonei pela beleza da melodia e letra.  É uma canção em compasso ¾ e no nosso arranjo o acompanhamento faz um ostinato e a melodia flui sobre ele.


TUDO TEU (Fred Martins e Marcelo Diniz)
Essa canção também ouvi o compositor tocando em um Sarau na época em que eu estava escolhendo as músicas pro CD. Achei bacana que houvesse uma canção com uma pegada mais pop, uma vez que a música brasileira hoje se movimenta muito em torno desse gênero, e aproveitei pra gravar um compositor que eu gosto muito.


CAPITAL (Guinga e Simone Guimarães)
Essa parceria entre eles eu gosto muito, é uma das minhas músicas preferidas no CD. Gosto das canções que contam uma história, esse é exatamente o caso de Capital, é como uma crônica musical. Musicalmente há de se notar a sofisticada trama melódica e harmônica tão característica do Guinga e o desenho rítmico do arranjo lembra um trem fazendo parte da viagem dos protagonistas da história.

MORTAL LOUCURA (Zé Miguel Wisnik e Gregório de Matos)
A quinta faixa, Mortal Loucura é um virtuosismo poético do Gregório de Matos endossado e tornado ainda maior pelo talento inequívoco do Zé Miguel Wisnik. A leitura que fiz foi religiosa, em ad libitum.



BOTE (Luís Felipe Gama e Kiko Dinnuci)
A sexta faixa do CD foi composta pra mim pelo Luís Felipe Gama com letra do Kiko Dinnuci.  Eu pedi uma música ao Luís Felipe pro CD e ele me deu essa. É a faixa Rock ‘n’ Roll do trabalho, em compasso 6/8 e com uma linda guitarra distorcida do Luís Passos no arranjo.




DEIXANDO O PAGO (Vitor Ramil e João da Cunha Vargas)
Deixando o Pago, a sétima faixa, é de um dos nossos maiores compositores do sul do país, o Vitor Ramil. Com letra do poeta João da Cunha Vargas, é uma canção folclórica, uma milonga com o texto em dialeto. Foi muito linda a participação do Paulo Freire tocando viola.



PRIMEIRO CHORO DE LUCAS (André Mehmari)
Oitava faixa é um tema do André Mehmari que eu conheci pela internet. Decidi gravar, queria uma canção instrumental no CD, gosto da voz sem

a palavra na música. Foi uma sorte ter achado logo de cara esse tema lindo, um choro com uma melodia e harmonia que vão por caminhos inusitados. O arranjo explora a voz, que faz a melodia sem dobra com outro instrumento, tem vozes abertas, tem efeitos vocais e um lindo solo de baixo.


SINHAZINHA EM CHAMAS (Arrigo Barnabé)
Nona faixa, Sinhazinha em Chamas é do Arrigo Barnabé, um músico que eu admiro muito e acho difícil cantar suas composições porque são muito particulares.  Também as canções do Luís Tatit eu acho difícil interpretar. Então, do Arrigo escolhi essa valsa linda, com a melodia nada simétrica, difícil de cantar e fizemos só de baixo e voz.


BARRIGUDA (Zé Paulo Becker e Thiago Amud)
É de dois compositores cariocas que eu adoro. O Zé Paulo Becker e o Thiago Amud. É um baião que tratamos de colocar flautas fazendo contrapontos, caracterizando bem o universo nordestino, lembrando os pífanos e o fole da sanfona.


DO COMPOSITOR (Eduardo Klébis)
Um samba do Eduardo Klébis fecha o CD falando sobre o tema compor. Vejo originalidade nas canções dele, gosto das letras que ele escreve e foi isso o que me levou a esse repertório. O arranjo não tem nada de especial, o foco tá na estranheza que a melodia e a harmonia, particulares, produzem num gênero tão conhecido pra nós como o samba.


Foi assim, e obrigada ao Arthur por estar aqui no blog agora.

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