
FAIXA A FAIXA
ARTISTA: LUCINA
DISCO: + DO QUE PARECE
Quinto disco de carreira solo iniciada em 1998 com o lançamento de “Inteira pra mim” (Dabliú Discos), “+ do que parece”, lançado em 2010 pelo selo “Flautim 55”, com direção musical de Ney Marques e produção musical dividida por ele e Lucina, trata-se de álbum curto, com duração de pouco mais de 24 minutos. Moça esperta, cantora e compositora afiada, faz bom uso da objetividade e síntese para dar o seu recado.
Nove canções o formam, todas compostas em parceria com Zélia Duncan. Seis delas são inéditas. A capa do artista plástico Bené Fonteles já traduz logo o que ouvinte pode esperar: canções em atmosfera calma, pautadas por delicadeza que traz força, força essa oriunda do olhar de compositora atenta, reverberada pela voz grave, graciosa ao mesmo tempo.
Selando amizade com um disco, Lucina se mostra ainda mais bem acompanhada: as irmãs Tetê Espíndola e Alzira E fazem participações nos vocais, além de meninas da chamada nova geração da música brasileira: Anelis Assumpção e Luz Marina. Engrossando a consistência, o produtor Ney Marques ainda toca violão de aço, guitarra e bandolim. Isso tudo fora outros nomes. É um time de fôlego. Estar bem acompanhado é tudo.
A feitura de arte produzida em dupla é ratificada por Zélia, como ela afirma no encarte desse disco: “Lucina me faz aqui existir mais como autora. E lhe devo tanto nesse aspecto. Peguei carona na coragem, no gosto pelo risco, pelo que pode parecer menos padrão, mais emoção”. Ao que Lucina, no mesmo encarte, devolve: “há tempos que eu acalentava o desejo de gravar as músicas que fiz com Zélia, essa obra urdida com tanto sentimento. E é esse o mais forte ingrediente desse CD – o afeto – que permeia e ventila todos os seus cantinhos”. São duas artistas genuinamente brasileiras transportando seus sentimentos para a música. Basta ouvi-las.
A seguir, você confere a própria Lucina esmiuçando esse seu disco mais recente. Conta histórias, como a do gato de rua encontrado por Zélia que gerou uma canção gravada aqui, detalha particularidades dos arranjos de cada canção, revela quem é o músico que mais entende de África no Brasil, nos conta por qual motivo a guitarra de Ney Marques chega a doer de tão bonita em “Meu amor, você sabe”, dentre outros assuntos. Passo a vez para Lucina: ninguém melhor do que ela mesma pra falar do seu próprio trabalho. Confira:

OLHOS DE MARTE (Lucina e Zélia Duncan)
Essa música é íntima. Traz uma imensa emoção traduzida em palavras simples, diretas. A melodia escorre pelos ouvidos - o violão de aço e o tema que Ney Marques faz sobre o meu violão é especialmente belo.
HORA MARCADA (Lucina e Zélia Duncan)
Essa tem a alegria da realização pessoal, de quando a gente chega num certo patamar, conscientes de nós mesmos e com o destino nas mãos. Gosto muito do solo da guitarra (Ney Marques) e da levada do baixo (Bosco Fonseca).
DIAS E NOITES (Lucina e Zélia Duncan)
Essa canta a dualidade constante em que a gente vive. Acho que essa letra traz uma visão bem feminina do mundo. Gosto especialmente da minha interpretação. Além de tudo, tem a participação de Tetê Espíndola no vocal.
NA AREIA (Lucina e Zélia Duncan)
Adoro essa faixa. Eu montei a percussão midi com o Zé Antonio (participação especial) e conto com as vozes de Alzira E e Tetê Espíndola. A percussão real é de André Rass. Uma atenção para o baixo de Bosco Fonseca - é maravilhoso!

TOM ZÉ (Lucina e Zélia Duncan)
Essa música conta a história de Tom Zé - que é o gato que Zélia achou na rua e homenageou o amigo com o nome. É uma faixa africana, ternária, com instrumentos típicos executados por Décio Gioielli, que é o músico que mais entende de África no Brasil. Tenho a participação luxuosa de Luz Marina e Anelis Assumpção nos vocais. Veja o desenho da guitarra junto com meu violão.
SEM SUSPIROS (Lucina e Zélia Duncan)
Amo esse texto verdadeiro e sincero. Nessa faixa também conto com a participação de Luz Marina e Anelis Assumpção nos vocais. Uma atenção especial para a percussão de André Rass.
MEU AMOR, VOCÊ SABE (Lucina e Zélia Duncan)
Essa é uma música de amor, uma declaração daquelas! A guitarra de Ney Marques chega a doer de tão bonita! Modéstia a parte, gosto demais da minha voz aí.
HÁ TEMPOS (Lucina e Zélia Duncan)
Essa canção fala do tempo de um jeito inédito e especial. É de uma sensibilidade incrível. Nela se misturam a kalimba africana (Décio Gioielli) com os instrumentos de Ney Marques (bandolim) e o baixo de Bosco Fonseca num arranjo aonde os timbres se interpenetram.
FIM (Lucina e Zélia Duncan)
Nessa o Décio Gioielli toca steel drums, instrumento jamaicano. Fiz o arranjo nota por nota aonde à harmonia vai completando o violão e a voz. A letra é a mais madura do CD e pra mim é uma das mais densas e belas. A Kalimba que Décio toca no final é um modelo muito antigo e dotado de uma sonoridade rara.