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Vanessa Bumagny - De Papel

Em russo, Bumagny significa “de papel”. E esse é o título do primeiro disco da cantora e compositora Vanessa Bumagny. Natural de São Paulo e mesmo sendo brasileira da gema, foi somente quando morou nos Estados Unidos que chegou a conclusão de que a carreira musical seria o seu destino. Nessa época, cantou Mozart num coral.  Sua vida sempre foi permeada de música. Pesquisando sobre ela, vemos que o ecletismo sempre esteve presente nos seus gostos musicais: cresceu admirando Luiz Gonzaga, Beatles, Prince , fez um show cantando o repertório da Dalva de Oliveira, teve banda de forró numa época onde esse estilo musical provocava asco nas pessoas e na tal crítica especializada, compôs com nomes que vão de Zeca Baleiro a Chico César, dentre outros.

Seus passos começaram a se delinear: recebeu o primeiro convite para fazer um disco de um espanhol, sendo que já fazia músicas nessa língua. Só que a vontade imensa era mesmo de fazer o seu debute fonográfico em solo brasileiro.

Numa folha de papel podemos escrever e riscar, rasurar, apagar o que acabamos de escrever, enfim, as possibilidades são inúmeras. Só que esse primeiro disco da Vanessa é uma folha em branco que foi sendo preenchida pelas suas composições. Cabe ao ouvinte pegar essa folha, ler/escutar e dar a sua contribuição. Por isso (também) vamos relembrar desse álbum agora:

Batidas diferentes formam “Tá Começando” (Vanessa Bumagny). A voz dela te pega de surpresa. Assim como as palavras em catalão “Vina cap aqui sin” (vem pra cá sem). A voz doce e gostosa já penetra nos ouvidos com uma facilidade absurda. A letra imagética explica o possível motivo de estarmos escutando-a: “tá começando eu posso ver as cortinas se abrindo aos poucos, uma alegria que só se permite aos loucos”.

Em “Árido” (Vanessa Bumagny) o acordeom ganha destaque. Essa faixa tem um clima oriental e também emula algo de nordestino. É levemente dançante. A fluidez da voz da Vanessa leva o ouvinte para longe.

“Radiografia” (Vanessa Bumagny) começa com uma risada deliciosa do convidado especial: Zeca Baleiro.  O contraste da voz masculina com a feminina é charmoso, resultando num dueto irresistível e sedutor. Essa canção tem um solo de guitarra digno de um grande concerto de rock. O jogo de sedução resultante das vozes dos dois é completamente sexy. Finalizando e dando mais tempero, Zeca Baleiro ainda solta uma frase ótima: “look at me baby”.

Na 4° faixa, “Corridinho” (Vanessa Bumagny e Adélia Prado), a percussão flerta com a voz da Vanessa, voz por onde a letra desliza direto pros ouvidos em direção ao coração dos ouvintes. Como quando ela canta: “tudo manha, truque, engenho: é descuidar, o amor te pega, te come, te molha todo. Mas água o amor não é”. Num arranjo suave, Vanessa canta sobre o amor e certas situações comuns que os apaixonados acabam vivendo, como ela mesma canta nos seguintes trechos: “o amor usa o correio, o correio trapaceia, a carta não chega, o amor fica sem saber se é ou não é”.

“Sede” (Vanessa Bumagny) tem uma letra apaixonada, poética e com metáforas ótimas: “quando você me nega, eu subo pelas paredes, quando você me pega e leva pra sua rede, é pra fé cega um milagre, é agua pra muita sede, é a beleza que invade e a dor cede”. É uma canção densa sem ser angustiante, te toca de alguma forma... O arranjo evidencia ainda mais a beleza da letra.


 

“Não Quero Nada” (Vanessa Bumagny) inicia-se com um primeiro verso falado. Acaba que Vanessa nos pega de surpresa quando do nada começa a cantar. O arranjo econômico: baixo, guitarra e percussão funciona tão bem, que a impressão que fica é a de que estamos escutando muito mais instrumentos. A letra descreve uma pessoa que está esperando o ser amado e negando o resto, como a própria Vanessa vai cantando nessa composição bem-humorada: “não quero comer, não quero beber, dormir, eu não quero ler, jornal, romance, revista”.

Parece que ela canta do seu lado, soprando no seu ouvido. Essa é a sensação após a audição de “De papel” (Zeca Baleiro e Vanessa Bumagny). Canção muito delicada e bela. O violão e o violão percussivo fazem toda a diferença no arranjo. Uma observação para um instrumento inusitado: “clap de papel” do Dante Ozzetti. Por fim, é uma música que te envolve na delicadeza. Uma pequena pérola delicada num primeiro disco. Que ainda conta com um dos versos mais inspirados do CD: “sofrer de amor assim com tanta elegância”.

“Plenilúnio” (Vanessa Bumagny e Fernando Pessoa) conta com a presença de flautas que derretem o ouvinte. No geral, chega a ser uma canção onírica que parece antiga, remetendo a outras épocas.

“Tranquilamente” (Vanessa Bumagny) é adornada com pitadas de cumbia e de certa latinidade. A interpretação aqui é faceira.  O arranjo conta com baixo, percussão vocal e teclado, deixando claro que poucos instrumentos são suficientes para se fazer uma canção interessante. O teclado dá uma cara clássica e refinada a essa faixa.


 

A letra de “Se Der Pra Ser” (Márcio Faraco e Vanessa Bumagny) descreve uma possível certeza no jogo do amor: “o amor só chega ao fim, quando tem que chegar, quando tem que ser”. Atenção para o refinamento que essa canção ganha com a presença do clarinete no arranjo. O ouvinte se sente leve, nas nuvens...


“Borboleta de Papel” (Chico César e Vanessa Bumagny) descreve as diferenças de um casal de maneira poética, abusando das metáforas: “eu borboleta de papel, você prático, do meu balé pelo céu, faz um gráfico, quer que eu respeite horário, as regras do itinerário”. Uma das melhores letras do disco, que ganha vida aos poucos. As imagens brotam e nos lembramos de quando vivemos uma situação assim em um relacionamento.



“És Verdad” (Vanessa Bumagny e Federico Garcia Lorca), como o título já diz, é em espanhol. Só que mesmo com a barreira da língua, o ouvinte se pega envolvido por essa canção. E ainda arrisca cantar a letra mesmo não sabendo nada do idioma. A interpretação é, digamos que misteriosa...



“Flor da Idade” (Chico Buarque), mesmo sendo uma música pescada de repertório alheio, não destoa de um disco quase que 100% de “cantautora”. Interessante observar como essa letra do Chico faz um paralelo interessante com as composições da Vanessa. Uma regravação doce como o timbre dela.



“Happy Ending” (Vanessa Bumagny e Jaime Gil de Biedma) tem título em inglês, mas a letra é bilíngue: espanhol e português. Inclusive a versão para a língua portuguesa foi feita pela própria Vanessa. Uma canção extremamente delicada, resultando em um final bonito e bem acabado para encerrar o disco.

1º Tá começando



2º Árida



3º Radiografia



4º Corridinha



5º Sede



6º Não quero nada



7º De papel



8º Plenilúnio



9º Tranquilidade



10º Se der pra ser



11º Borboleta de papel



12º És verdad



13º Flor da Idade



14º Happy Ending

Escute o CD aqui:

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