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Tereza Virginia - Aluada

Carioca de berço radicada em Florianópolis, Tereza Virginia conseguiu
lançar seu segundo disco – a estreia homônima aportou no mercado
no primeiro semestre de 2008 – após sagrar-se vitoriosa no edital
“Elizabete Anderle” da Fundação Catarinense de Cultura.
Cantora e compositora, Tereza batizou sua segunda empreitada
fonográfica como “Aluada”. Produzido pela própria artista em dupla
com Júlio Córdoba, que além de capitanear a direção musical,
assina alguns arranjos e toca violão em diversas faixas. Falando
nelas: o repertório selecionado engloba dez canções,
destas, três são releituras de clássicos do cancioneiro
tupiniquim.
Diferente do que acontece com a maioria das interpretes
da atualidade, que se sobressaem quando abordam o
cancioneiro alheio que ajudou a formatar a nossa
música (o que evidencia a falta de força da lavra autoral
em termos de composição), Tereza alça voos mais altos
quando defende suas próprias criações e de seus
contemporâneos. Neste álbum, assina três canções
solitariamente (dentre elas uma instrumental e uma
versão em francês), três em parceria com o músico
Raphael Galcer e fecha com música de Toni Edson.
Prova de que a praia musical dela é ela mesma, tem
personalidade artística forte.
Ao final da audição, vale ressaltar principalmente duas coisas. Em primeiro lugar, a artista merece aplausos pelo resgate e uso apropriado da flauta nas canções: bom ver instrumento que goza de pouca popularidade nestas terras a embelezar canções. Por fim, o disco revela uma cantora afiada, que sabe onde quer chegar: os arranjos, elegantes e finos, harmonizam em perfeita sintonia com o timbre da cantora, que, vocalmente falando, baila de maneira interessante com sua emissão clara e segura, juntamente com seu fraseado sensível suave, valorizando cada palavra cantada.

Aluada (Tereza Virginia)
Introduzida com flauta bonita de Bernardo Sens, logo a cama sonora vai se revelando, com destaque pro pandeiro e surdo de Osvaldo Pomar. Instrumental discreto que reforça o clima proposto pela letra, que por sua vez lembra a poesia tradicionalista: “saudade assim é centelha aluada, lágrima vã no infinito da espera, e suspira assim trêmula, e vagueia alumbrada, afasta os medos”. E ainda tem citação de “Lua Branca” de Chiquinha Gonzaga.
Dentro de Mim Mora Um Anjo (Sueli Costa e Cacaso)
Tereza é acompanhada apenas pelo piano de Alessandro Cipriani. Apesar do arranjo do pianista, que parece ter sido feito sob medida pra cantora, a versão de Fafá de Belém – gravada em 1978 no LP “Banho de Cheiro” - continua superior. Faltou um pouco mais de ardor, se jogar com tudo na fogueira e deixar a voz queimando.
Noturna (Raphael Galcer e Tereza Virginia)
Acalanto muito bem construído. Imagino Nana Caymmi cantando. Ganhou acordeon que faz belo contraponto a voz da cantora. Palmas pra Alessandro Cipriani. Comunhão interessante de arranjo bem construído e performance vocal (bem) bonita.
Camille (Tereza Virginia, versão de Isabelle Quimper a Camille Claudel)
Só voz e o piano de Alessandro Cipriani. Os dois defendem a canção de modo interessante, numa sintonia fina. Mesmo cantando em francês sua marca brasileira continua no registro vocal.
Véus de Sons (Raphael Galcer e Tereza Virginia)
Violoncelo de Fred Malverde dá um molho especial ao arranjo, que é superior a interpretação. A letra tem sacadas ótimas: “não vou lhe dizer por onde vago, nessas noites sem você, o silêncio não me trai e faz a lua estremecer, e são véus de sons”.
Flores Horizontais (José Miguel Wisnik e Oswald de Andrade)
O arranjo econômico/eficiente, calcado no piano de Alessandro Cipriani e cajón, caixa e chimbau de Osvaldo Pomar desvia a atenção do ouvinte quase que exclusivamente pra interpretação de Virginia. Fica clara a personalidade da cantora e é louvável a “ousadia”, mas em confronto com a gravação de Elza – registrada em 2002 no disco “Do Cóccix Até O Pescoço”, é um poema de Oswald musicado por José Miguel - essa versão perde pontos.
Choro de Filha (Tereza Virginia).
Faixa instrumental. Destaque pro violão de sete cordas de Raphael Galcer, cavaquinho de Fernanda da Silveira e flauta de Bernardo Sens: trio inspiradíssimo. Dedicada ao pai Humberto.
Abadaiá (Raphael Galcer e Tereza Virginia)
Melhor momento do disco, caso raro de encontro mais do que feliz entre letra, arranjo e interpretação. Letra incrível, recheada de imagens bem sacadas. Tereza canta com muita propriedade, sua interpretação lembra grandes damas da nossa canção.
Amor de Parceria ( Noel Rosa)
Das três regravações essa é a melhor delas. A voz de Tereza vai deslizando pela letra esperta do autor. Arranjo bem gostosinho, com ênfase pra flauta de Bernardo Sens, além do violão de Júlio Córdoba e o pandeiro malandro de Osvaldo Pomar. Foi gravada pela carioca Aracy de Almeida em setembro de 1935 num 78 RPM lançado pela Victor, e mais recentemente em 2010 pela cantora Tatiana Parra no disco “Inteira”.
Zambelê (Toni Edson)
Arranjo vai crescendo, ficando mais envolvente, ponto pra Osvaldo Pomar, que comandando alfaia, caixa, agogô e pandeiro se destaca naturalmente. Algo na instrumentação remete a Elba Ramalho. Ao vivo deve ficar bacanérrima.
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