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Luzia Dvorek- Luzia




“Dança Para Um Poema” - composta pela profícua dupla Rubens Nogueira e Consuelo de Paula, foi gravada pela autora em 2004 no disco independente “Dança Das Rosas” – abre os trabalhos. Os versos autoexplicativos “dou-te a minha pele à minha mão, hoje sou a terra da criação, passam rios no meu corpo, na minha voz, navios e embarcação”, ganham clima denso, reforçado pelo arranjo de cordas de Lincon Olivetti.
Luzia não tinha como fugir do fazer artístico. Seu berço comprova: a mãe,
Eugênia Thereza de Andrade, é diretora teatral. O pai, Sílvio Dvorek, é
artista plástico. Se mesmo assim tivesse dúvidas do caminho a seguir,
aos cinco anos elas foram eliminadas: Maria Bethânia a impulsionou a
“pegar o pandeiro e ir para o Carnaval”. Já querendo ser cantora, Luzia
recebeu a confirmação mais do que necessária.
Gestado durante quatro anos, seu primeiro disco, batizado
apenas como “Luzia”, chegou ao mercado em dezembro
de 2011. Produzido por Alê Siqueira com coprodução
da própria artista, o repertório, bem amarrado,
apresenta 12 faixas com presença marcante da
percussão, elemento que remete a um personagem
recorrente na trajetória da cantora: Carlinhos Brown.
O disco foi gravado no estúdio dele, “Ilha dos Sapos”.
Além disso, o baiano lhe cedeu à canção “Pestaneja”,
gravada por ele em seu disco de 2010, “Diminuto”. Como
se não fosse suficiente, acrescentou molho especial
nos arranjos de “Cantiga de Menina” e “Ouro e Sol”,
versão em português de “Fields of Gold” (Sting) feita
por Zeca Baleiro e Lui Coimbra.
Bem acompanhada, Luzia reuniu um time de peso para sua estreia: do já citado
Carlinhos a Ivan Lins, passando por André Mehmari a Lincon Olivetti. Somados ao time
de compositores, de Vitor Ramil a Antonio Villeroy, de Rubens Nogueira e Consuelo de Paula chegando a Dominguinhos e Anastácia, a artista parece saber aonde quer chegar, como mostra o clique de seu rosto na capa do disco, em foto feita por Bob Wolfenson, colaborador frequente da revista Playboy.Dona de voz refrescante, Luzia fez um primeiro disco particular. Contando com músicos afiados, apresenta uma sonoridade com DNA próprio, fica bem visível o quanto todo o conteúdo deste debute foi pensado e planejado pra soar como ela mesma, sem obedecer a rótulos pré-definidos. Esperta: este é o caminho pra ser ouvida no país das cantoras.
Canção composta por Vitor Ramil e gravada pelo artista em “Tambong” (2000), “A Ilusão da Casa” ganhou registro marcado pela percussão de Boghan Gaboott, mesma percussão que faz par interessante com a programação e teclados de Bruno Aranha. Canção com interpretação tranquila que poderia integrar trilha de novela global, tem apelo.
"Cantiga de Menina" (Breno Ruiz e Paulo Cesar Pinheiro) começa com barulho da praia do rio vermelho, na Bahia, gravado por lá mesmo. As Kalimbas e caixinhas de música de Carlinhos Brown, convidado especial da faixa, ganham destaque.
Presente do autor Carlinhos Brown, “Pestaneja” recebeu arranjo preciso com ênfase nos samples de Alê Siqueira. A letra, inspirada e repleta de imagens, é preenchida de maneira suave pela voz de Luzia: “quando o sol bem lá na serra se esconder, e o sofrer voltar ao ninho no arvoredo, as estrelas lá de lá brilham mais cedo”.
O arranjo de flautas e mellotron de Lincon Olivetti em "Pássaro Solto" (Vicente Barreto e Paulo César Pinheiro) torna essa faixa um dos momentos mais bonitos do disco. A voz de Luzia desliza na letra acompanhada pelo violão delicado de Paulo Dáfilin.
Com letra que remete ao universo particular de Dorival Caymmi, “Minha Sorte” (Rafael Altério e Rita Altério) ganhou ar nordestino, muito pela percussão de Boghan Gaboott, que acompanhado de Bruno Aranha na programação e teclados, faz boa companhia a cantora, que mostra mais as nuances vocais. Uma das melhores do disco.
Mostrando personalidade, “Fields os Gold” (Sting, em versão de Zeca Baleiro e Lui Coimbra batizada como “Ouro e Sol”), foi transformada numa música genuinamente brasileira, onde Carlinhos Brown deita e rola comandando tubaque, caxixi, teclado de computador percutido, pandeirão com piercing, apitos, claves de ferro e vozes percussivas.
Momento menor no conjunto da obra, “Amador” (Rafael Altério e Élio Camale) tem letra superior à interpretação. O arranjo delicado e sutil, com toques orientais, funciona.
Melhor faixa do disco, “Além do Paraíso”, inédita de Antonio Villeroy, lembra um tango estilizado com arranjo de cordas espertíssimo de Lincon Olivetti. A letra, inspirada, tem ótimas sacadas: “perversa serpente do mal, mentirosa e traidora, vestida nas vestes mais lindas. Bom notar como a cantora, de jeito pessoal, destila versos fortes: “quem vê diz que é boa pessoa, do alto do seu egoísmo, só faz o que lhe interessa. A percussão parece perseguir a voz dela, ponto para Boghan Gaboott.
Gravada em 1974 por Gal Costa em compacto simples lançado pela Philips, “De Amor Eu Morrerei” (Dominguinhos e Anastácia) recebeu sanfona executada de maneira personalíssima por Marcelo Jeneci. Mesmo optando por um caminho mais difícil (canta em tons mais baixos, delicada), Luzia faz um registro ok.
Corajosa, Luzia encara “Choro das Águas” (Ivan Lins e Vitor Martins), canção eternizada por Alaíde Costa em LP de 1988, “Amiga de Verdade”. Acompanhada apenas pelo piano de André Mehmari, cheio de personalidade por sinal, e que soa como uma terceira voz, juntando-se a cantora e a luxuosa presença de Ivan Lins, em perfeita sintonia com a anfitriã.
Com coro gracioso de Daniella Aguiar, Juciara Carvalho, Marcia Duarte, Mariana Silva e Simone Galvão, “No Colo da Lua Cheia/Novo Amor” (Paulo Dáfilin, Roque Ferreira e Edu Krieger) é canção calcada em violões (Paulo Dáfilin) e percussão (Boghan Gaboott), momento alto astral, pra cima, bom desfecho.
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