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Geisa Fernandes - Geisa Fernandes

Foi em dezembro de 2010 que Geisa Fernandes, cantora e compositora niteroiense, conheceu o produtor musical, músico, escritor e professor Francisco Falcon. Parceria iniciada, este ficou como responsável pela produção musical e arranjos do primeiro disco de Geisa, lançado em janeiro de 2013 na capital carioca.
 
Precedido por passagens pelo “Trio Noturna” e a “Coletânea MPB”, que aportou no mercado pela Niterói Discos, este primeiro álbum, batizado apenas com o nome da artista, reúne 11 faixas, destas, dez foram compostas solitariamente por Geisa – também assina as músicas. O único porém, curioso por sinal, fica na última canção, “Brejeiro”, de Ernesto Nazareth, que ganhou letra de Geisa, “por coincidência, o CD acabou saindo no ano em que se comemoram 150 anos de nascimento do Nazareth”.
 
Revestidas por instrumental bem resolvido com ecos de jazz e samba numa embalagem pop, sem soar descartável, as músicas aqui apresentadas mostram caráter cosmopolita, principalmente por três motivos. Em primeiro lugar, Geisa saiu da terra natal com 18 anos rumo a Campinas para fazer faculdade na UNICAMP. Depois, foi parar em Osnabruck (Alemanha) em 1995, ficando por lá três anos e meio. Após, permaneceu em Hasselt (Bélgica) por um ano e meio, voltando para o Brasil nos anos 2000, residindo aqui pelo mesmo tempo que a morada anterior, tempo este que se repete 
quando ficou em Recife, por fim, fixou moradia em Niterói desde 2004. Em segundo lugar, o disco conta com a participação do bandoneonista argentino Bruno Pianzola. Finalizando, enquanto no Brasil o público comenta mais a versão de Nazareth, os franceses consideram este trabalho como “latin jazz”.

 

Esperta, Geisa recrutou banda afiada para traduzir seus anseios, banda essa capitaneada pelo já citado produtor Francisco Falcon, que comparece tocando baixo, violão, violoncelo, violão tenor, guitarra, teclados, caderninho, violão 7 cordas e efeitos. Se junta a ele Liandro Goés no sax e flauta e Flavio Santos na bateria e percussões. Engrossando o molho sonoro, Kiko Continentino faz participação especial nas faixas “Depois do Verão”, “Case-se Comigo (nem que por hoje só)”, “Belas Fotos” e “Grandes Causas”. Notemos que aqui, a junção dá liga: interpretações e arranjos dialogam em prol de uma música que, coberta por roupagem globalizada, é brasileiríssima por essência, defendida por uma cantora que entende do riscado.
 
No “Faixa a Faixa” a seguir, Geisa conta como uma canção virou tango, revela suas preferências pessoais, fala da influência do jazz, narra como um encontro virtual virou letra, mostra sua música preferida do disco, explica como um poema virou canção, relembra quando não passou em um concurso, cita o filme “Frida” e uma letra cinematográfica, vive seu momento Motown e homenageia Ernesto Nazareth.
ELEVADO (Geisa Fernandes)
 
A faixa ficou pronta bem no início da produção, mas sofreu diversas modificações no arranjo até se transformar num tango (!), com direito à participação do bandoneonista argentino Bruno Pianzola. Destino inusitado para uma letra do tipo "instantâneos do cotidiano", ambientada no Rio. Por conta dessa mistura de sonoridades virou música de trabalho do CD, junto com Brejeiro. Ernesto Nazareth é considerado o pai do tango brasileiro. Felizes casualidades ou, como diria o Luiz Melodia: tá tudo solto na plataforma do ar.
CHEGUEI POR AQUI (Geisa Fernandes)
 
A segunda faixa é um cartão de visita e conta um pouco das minhas andanças, da relação com a universidade (sou formada em História, fiz doutorado em Comunicação e pesquiso Histórias em Quadrinhos) e das coisas de que gosto: plantas, cozinhar. É uma apresentação, um autorretrato musical e é a faixa com a pegada mais pop.
GESTOS TEATRAIS (Geisa Fernandes)
 
É para mim uma das letras de maior apelo visual do CD. Descreve cenas ocorridas em dois momentos bem diferentes na minha vida: Alemanha, década de 1990 e Rio, anos 2000 e que foram registrados primeiro em poema. É a primeira faixa do CD na qual a influência do jazz aparece explicitamente.
SAMBA DO PAVÃO (Geisa Fernandes)
 
Essa é a faixa com a história mais divertida: um flerte de internet, promessa de encontro que avançou até o estágio de troca de telefonemas e torpedos, mas que nunca se concretizou. A situação me lembrou daquela imagem do pavão, garboso de longe, mas escondendo o contato de perto. Depois de mais um desencontro, rascunhei uma letra qualquer, como desabafo e que virou o primeiro samba do CD. Mas assim como acontece com "Batida de Frente", não creio que seja a sonoridade típica do samba carioca. A introdução já traz a referência forte do samba paulista de Adoniran Barbosa.
DEPOIS DO VERÃO (Geisa Fernandes)
 
Pode ter favorita? Então essa é a escolhida, por vários motivos: para começar foi uma das faixas que contou com a participação especialíssima de Kiko Continentino, um grande tecladista, conhecido não só por seu trabalho com o Milton Nascimento, como também por seus projetos autorais, como o Samba Jazz Trio. Além disso, Depois do Verão foi a última letra a ficar pronta, quando a produção do CD já estava em curso. Era verão, um calor tremendo, eu tinha acabado de voltar de mais um dia de estúdio e ainda havia muito a fazer. Um momento desolador, enfim. Comecei a cantarolar, mais para me motivar que por inspiração. Letra e melodia surgiram juntas e eu gosto muito do resultado final, meio naïf.
MORDIDA (Geisa Fernandes)
 
Uma das primeira canções que fiz, bem antes de ter o projeto do CD fechado.. Mordida primeiro foi poema, depois virou canção. É da época em que letra e melodia vinham separadas. Agora componho em paralelo, com a melodia puxando a fila. Breve crônica de um fim de relacionamento.
CASE-SE COMIGO (NEM QUE POR HOJE SÓ) (Geisa Fernandes)
 
Essa surgiu da necessidade de driblar uma situação de estresse: a espera pela hora de começar um concurso. Enquanto os outros candidatos chegavam, peguei um caderno e comecei a fazer desenhos, anotações, enquanto cantarolava qualquer coisa mentalmente e a melodia foi surgindo. O problema é que eu não sei escrever música, então preciso gravar a melodia de alguma maneira, para não esquecer. Nesse caso, como eu estava fora de casa e pouco antes de começar uma prova, eu precisei usar palavras cuja sonoridade e a métrica me fizessem recordar a melodia e a letra que foi surgindo virou "case-se comigo", depois eu achei que o título era muito "princesa", enquanto a letra é mais dúbia ("promessas nunca faltam, mas a gente vai levando") e, na verdade, desconstrói a ideia do ritual do casamento e o refrão ganhou um "nem que por hoje só" . Naturalmente eu não passei no concurso, mas me dei por satisfeita da experiência ter resultado numa canção com um verso tão simpático quanto "café passado ou champanhe no umbigo, amor/eu topo tudo com você". Foi mais uma das faixas com a participação do Kiko Continentino nos teclados, com sua elegância peculiar.
BATIDA DE FRENTE (Geisa Fernandes)
 
Outra das antigas, talvez a mais antiga, contando a época em que era só poema. O título vem de uma referência visual: a cena do acidente de bonde, no filme "Frida", que é uma referência feminina forte. A melodia é mais difícil, mais quebrada, quase um samba-experimental.
BELAS FOTOS (Geisa Fernandes)
 
Letra declaradamente cinematográfica e os teclados do Kiko imprimiram a ambientação jazz que eu busquei para o projeto. Gosto muito do arranjo.
GRANDES CAUSAS (Geisa Fernandes)
 
Mantra, cartão de visitas, momento Motown, graças ao teclado do Kiko.
BREJEIRO (Geisa Fernandes)
 
Minha homenagem ao grande mestre Ernesto Nazareth.

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